Olá!

Dia de romance policial no blog e finalmente pude conhecer Henning Mankell. Tudo bem que li o último que foi publicado aqui no Brasil, pela Cia. das Letras, mas a ordem dos fatores não altera o produto (acho) então confira a resenha de Um Passo Atrás.
SKOOB - Um Passo Atrás começa com três jovens desaparecidos após saírem para uma certa comemoração durante o solstício de verão. A mãe de uma das vítimas sabe que algo está errado e pede a ajuda da polícia. Porém, ao receber um suposto cartão postal de sua filha, a polícia diz que nada pode fazer, que os jovens estão curtindo uma viagem pela Europa.

Enquanto isso, na delegacia da cidadezinha de Ystad, Kurt Wallander e sua equipe estão preocupados com o fato de que o detetive Karl Evert Svedberg não apareceu para trabalhar. Ele nunca faltava sem avisar. Kurt também falou com a mãe da jovem desaparecida, mas não estava convicto de que algo estava errado. Até descobrir que Svedberg fora encontrado morto em casa.

Algum tempo depois, os corpos dos jovens foram encontrados. Eles estavam em uma reserva natural, fantasiados com trajes do século XVIII e com tiros certeiros na cabeça. Desde então, Kurt sabia que algo estava errado e que a mãe de uma das vítimas – eram um rapaz e duas moças – tinha razão.

Para melhorar a situação, Kurt não gozava de plena saúde. Tinha péssimos hábitos alimentares e uma vida desregrada, o que, por consequência, o fez desenvolver diabetes. Além disso, ele sentia cansaço extremo é uma forte suspeita de que algo estava errado com sua saúde mental. Encontrar o assassino dos jovens e de seu colega o deixará extenuado, mas não vai se resignar e querer descobrir o que aconteceu, mesmo pressentindo que estava um passo atrás.
Queria dizer que as folhas têm a lateral verde.
Eu já assisti toda a série Wallander – disponível na Netflix, falei dela aqui – então comecei a leitura sabendo de algumas coisas sobre a obra (lembrando que cada episódio da série é referente a um dos livros) enquanto outras me surpreenderam. Adoro romance policial – principalmente se for escandinavo – mas tenho que dizer que, dessa vez, não me surpreendi com o desfecho – claro, eu já sabia como terminaria – mas ainda assim foi uma ótima leitura, pois pude conhecer a escrita de Mankell.

Por causa da série, tive uma ideia de como é Ystad. Porém, não tenho certeza se as gravações foram feitas na Suécia – a fotografia é muito bonita, diga-se de passagem – já no livro, as descrições foram tão precisas que pude ver com clareza como é o lugar. Wallander é incansável na busca por respostas, mas mesmo com sua equipe competente – Martinsson, Ann-Britt Höglund, Hansson, Lisa Holgersson e Nyberg – o assassino arquitetou tudo com perfeição, o que o ocasionou grandes problemas na solução do caso.

O caso, aliás, chocou todo o país, já que, depois dos quatro homicídios – será que havia ligação entre eles? – os policiais não sabiam como agir, sequer sabiam se ele iria matar novamente. É um livro eletrizante, pois o autor coloca pequenas pistas durante a leitura que nos faz sentir como se estivéssemos com o próprio assassino, já que a equipe policial não sabe de nada.

Para os fãs de romance policial que ainda não conhecem as produções suecas, faz-se necessária a leitura da série de Henning Mankell, pois ele popularizou o gênero fora do país, abrindo caminho para muitos autores e também fazendo a própria população pensar enquanto sociedade. Lembrando que os romances policiais fazem sucesso lá porque as instituições de Polícia/Justiça funcionam. É interessante ler para entender melhor um dos países que mais são bem vistos pelo mundo, além de, claro, conhecer um dos maiores autores que a Suécia já teve.

Compre aqui o seu exemplar de Um Passo Atrás.

Olá!

O nome dessa série passou na minha timeline do Facebook e, logo de cara me chamou a atenção por motivos de: romance policial escandinavo. O termo chave para me atrair para qualquer produção advinda dessa região. E o mais legal é que é uma produção islandesa, o que me é uma novidade, pois da Islândia só conheço a Björk e o escritor Arnaldur Indridason. Conheça Trapped.
Trapped nos apresenta o detetive Andri (Ólafur Darri Ólafsson), que depois de algum tempo morando em Reykjavik, capital da Islândia, volta para a cidade portuária onde vivia. Só que, devido a uma tempestade, a cidadezinha fica isolada. E nesse meio tempo, um tronco é encontrado no mar, ao mesmo tempo em que um balsa dinamarquesa ali aporta.

Porém, antes de começar a investigação do tronco, faz-se necessário voltar no tempo, em 2008, quando uma fábrica desativada é incendiada e a cunhada de Andri morre - era lá que a jovem se encontrava, às escondidas, com o namorado. Ele, inclusive, leva a culpa.

Tendo como ponto de partida o tronco, Andri e sua equipe policial de duas pessoas - é tudo o que ele tem disponível - os oficiais Ásgeir (é homem; Ingvar Eggert Sigurðsson) e Hinrika (Ilmur Kristjánsdóttir), terá que lidar com uma série de situações que acontecerão após esse tronco ser encontrado. Lembrando que a cidadezinha está isolada e não tem como o pessoal da capital mandar mais efetivo.
Em paralelo à investigação, Andri tem seus próprios problemas (como todo protagonista de romance policial deve ter): ele mora na casa dos sogros (confesso que demorei pra entender esse detalhe), junto com suas duas filhas. Sua ex-esposa está com outro, o que o deixa muito magoado, pois ele acreditava que poderiam reatar o relacionamento. Além disso, seu sogro não consegue entender como o namorado de sua filha caçula saiu da prisão, mesmo o jovem já tendo cumprido a pena.

Numa paisagem branca e imponente, Trapped mostra que até mesmo na Islândia ninguém está seguro. Não se pode perder nenhum detalhe, preste atenção em todos os nomes (mesmo sendo praticamente impronunciáveis), em todas as pessoas. Todos são suspeitos e Andri não tem muitas pessoas em quem confiar. Ele também tem seus segredos. Tem que encontrar o assassino ao mesmo tempo em que seu coração se parte mais e mais porque a ex está em outro relacionamento.

Diferente de outras produções, em Trapped não tem gente com padrão Hollywood de beleza (eu achei o Andri fofinho, confesso), o que pode ser um reflexo da população, os personagens são gente como a gente. Eu fiquei pensando como é viver num país que faz frio o ano todo e a neve, dependendo da tempestade, cobre o seu carro por inteiro. E aí não dá nem pra sair de casa. Como a série foi gravada toda no inverno, nem quero imaginar como deve ter sido difícil pro pessoal gravar as cenas externas, eu fiquei com frio por eles...
A série tem apenas 10 episódios e, até onde pesquisei, a segunda temporada vai ser gravada só ano que vem. Obviamente Andri é meu favorito, mas também criei afeição pela Hinrika (já virei fã da atriz), ainda mais porque sua personagem vai crescer ao longo da série, se tornando bem importante, assim como Ásgeir, que vai cometer umas burradas, mas vai se mostrar um policial bem correto. Enfim, uma pequena equipe que, unida, fará muitas descobertas.

Eu não sou a maior fã de maratonar séries, por isso demorei uns três finais de semana para ver tudo, porém, se você tem tempo livre/paciência, eu recomendo Trapped, provavelmente diferente de tudo que você já viu. A propósito, a fotografia é tão linda, fiquei com vontade de conhecer o país depois de conhecer Andri e sua história.

P.S.: fiquei sabendo que há um brasileiro no elenco.

Olá!

Depois de muito relutar, mergulhei em mais uma história escrita pela sueca Camilla Läckberg. E não é que minha xará não me decepcionou? Vem conhecer a história de Gritos do Passado, segundo volume de sua série criminal.
Resenha Anterior: A Princesa de Gelo

SKOOB - Infinitamente melhor que o primeiro, Gritos do Passado mescla várias histórias em uma. Primeiro, um garotinho vai brincar na Passagem do Rei, uma região próxima a uma praia, e acaba encontrando uma mulher morta. Porém, ao retirar o corpo do local, a polícia acaba encontrando mais dois corpos.

Enquanto isso, Erica Falck, que eu podia jurar que era a protagonista da série toda, está grávida de oito meses e morrendo de calor. Fjällbacka está em pleno verão e o calor tá de matar, rs. Volta e meia, um parente vai azucriná-la, achando que sua bela residência é uma pensão de veraneio. Por causa da gravidez, ela vai passar boa parte do tempo em casa, o que não será nada fácil, principalmente para uma pessoa que sempre foi ativa.

A outra história envolve a família Hult. Ephraim, conhecido pela alcunha de "O Pregador", era um dos vários pastores da chamada "igreja livre", digamos que era uma dissidência da Igreja da Suécia (lembrando que a Igreja da Suécia é protestante). Ephraim fazia vários cultos, acompanhado pelos filhos Johannes e Gabriel, até que um dia recebeu uma herança e parou de pregar.

Ele fez a população acreditar que seus filhos tinham o dom da cura. Enquanto eram pequenos, tudo ia bem, mas um dia o dom desapareceu de ambos. Gabriel ficou feliz com isso, mas Johannes quase surtou. Houve um cisma na família e cada irmão tomou seu rumo. Alguns anos depois, Johannes cometeu suicídio, deixando viúva Solveig (que engordou tanto que não lembrava a jovem de outrora, cheia de vida e vencedora de vários concursos de beleza) e dois filhos: Johann e Robert, um tanto problemáticos.

Do lado de Gabriel, ele casou-se com Laine e teve dois filhos, Jacob e Linda. Jacob era muito querido, isso porque teve leucemia infantil e quase morreu, sendo salvo pelo avô, o que deixou uma ferida muito profunda em Gabriel. Já Linda nasceu muito depois e não era tão amada assim, não por ser menina, mas porque não teve nenhuma doença grave. E gostava de provocar as pessoas.

A jovem encontrada morta é uma turista alemã, mas conforme os dias vão passando, vamos descobrindo cada vez mais detalhes, como por exemplo, o fato de que a vítima não tinha ido a Fjällbacka a passeio. Essa investigação ficou a cargo do marido de Erica, o policial Patrik Hedström, que teve que abandonar suas férias e terá bem mais destaque em relação ao livro anterior.
Ainda por cima conhecemos mais um pouco do cotidiano da delegacia de Tanumshede, onde Patrik trabalha com sua equipe: o chefe Mellberg (que comprou uma noiva por catálogo e essa cena é muito engraçada), o Ernst (que não gosta de trabalhar), o Gösta (que tem um passado meio triste), o Martin (parceiro de Patrik), a Annika (a secretária que sempre tem uma palavra amiga), e assim por diante.

Quando li Princesa de Gelo, senti que faltou algo a mais para me conquistar, mas dessa vez, a escrita da minha xará me pegou do começo ao fim, essa mescla de histórias que acabam se tornando uma só virou meio que uma marca registrada dela, não vejo muitos fazerem isso. Além do crime em si, Camilla aborda vários temas, como violência doméstica. A irmã de Erica, Anna, finalmente se separou do agressor, arrumou outro namorado (tão bosta quanto o primeiro, mas este tinha o sangue azul, sendo amigo íntimo da rainha Silvia, só isso) e tentou dar um rumo em sua vida, sempre priorizando os filhos. Mas quem disse que essas coisas se resolvem com facilidade?

Percebi que houve uma espécie de amadurecimento da escrita da autora. As descrições modorrentas deram lugas às descrições ágeis, detalhadas mas sem ser desnecessárias, fazendo com que o leitor visualize perfeitamente o que está acontecendo, os lugares, as pessoas, etc. E vale ressaltar que, na já citada mescla de histórias que faz, ela não se perde, talvez pelo fato da escrita ser em terceira pessoa ajuda a compreender melhor cada personagem.

E a história em si é um verdadeiro thriller. Com tensão do começo ao fim, infelizmente a Erica não terá o protagonismo de outrora, aqui ela foi relegada a uma gestante em vias de ter seu primeiro filho (cujo sexo não sabemos), acabou por se tornar a esposa do policial, mas sempre procurando ajudar o marido, que se desdobra entre cuidar da esposa e resolver os crimes, além de tentar entender a complicada família Hult, que por mais que tente se livrar das acusações, está inexoravelmente ligada a eles - e a própria Fjallbacka também.

Antes da Planeta fazer umas capas horríveis (os livros seguintes receberam uma capa de dar dó), provavelmente sabendo que a série não vendeu (se não divulgar não vende mesmo, amiguinhos), o trabalho de edição, capa e revisão ficou muito bom. Até onde estou sabendo, no país foram publicados quatro volumes (de dez, e a autora confirmou via Twitter que vai focar em uma série nova) e, apesar de eu ser suspeita para falar de romance policial escandinavo, tenho que recomendar a série da Camilla, por mais que esteja incompleta, tem um estilo próprio, que mostra ao leitor como é a vida dos suecos fora dos grandes centros - e como nenhum lugar daquele país (que beira à perfeição) está seguro de sediar crimes tão horrendos.

Então, apesar de eu não ter curtido tanto o anterior, recomendo demais esse volume. Até porque não é todo dia que uma mulher ganha destaque escrevendo romance policial. Sem falar que, dessa vez, eu acertei a famosa pergunta "quem matou?", com direito a acertar até mesmo a motivação! Então sim, estou contente com a resolução dessa história e, assim que virar o ano, pretendo ler o volume seguinte, O Cortador de Pedras.


Olá!

Mais um romance policial escandinavo por aqui. Enquanto eu não enjoo do (sub)gênero, resolvi ler o segundo volume do personagem clássico criado pela dupla (casal, na verdade) Sjöwall-Wahlöö. Infelizmente a Record não deu sequência na série, mas tudo bem. Um dia eu aprendo sueco.
Resenha Anterior: Roseanna

SKOOB - O Homem que Virou Fumaça é o segundo volume da série do inspetor Martin Beck e começa com meu segundo detetive favorito (porque o primeiro é o Kurt Wallander) tendo suas tão sonhadas férias interrompidas. Exatamente 24 horas depois de encontrar sua família numa ilha onde descansariam, ele precisa voltar para sua delegacia, pois há um desaparecido.

O Ministro do Exterior o convocou para que ele cuidasse do caso do desaparecimento do jornalista Alf Matsson, que foi pra Budapeste, capital da Hungria, e sumiu. Porém, o caso de Alf é mais difícil do que se imagina, pois é como se ele simplesmente nunca tivesse existido, pois há muito pouca coisa sobre ele. E mesmo sendo um desaparecimento que aparenta ser comum, Beck tem aquele instinto tão comum em romances policiais de ir até o fim de cada caso.

Beck, que segundo as más línguas, tem o dom de "entrar numa sala e fechar a porta atrás de si quase ao mesmo tempo em que batia nela no lado de fora", esbarra na falta de interesse das autoridades húngaras para encontrar o jornalista. Em Budapeste, ele contará com a improvável ajuda de um certo major, que é um tanto desconfiado, mas muito inteligente.
Mas, o que seria apenas mais um caso de desaparecimento, mostra-se um complexo caso envolvendo altos escalões, tráfico de drogas e algumas coisas que tem de sobra no Leste Europeu. E Beck terá que focar em encontrar uma solução - ou achar o cara - e deixar de lado suas tão sonhadas férias na cálida costa da Suécia. Para isso, terá a ajuda de seus colegas Melander e Kollberg.

Com muita dor no coração, tenho que dizer que esperava mais dessa leitura. Amo romance policial, isso não é segredo, mas percebi que faltou aquele impulso que o leitor precisa ter para querer desvendar o caso, é como se os autores, na figura de Martin Beck (que não estava resfriado), quisessem entregar tudo mastigado para o leitor. Muitas descrições, pouca ação. Quando o leitor percebe, já se concluiu o assunto.

Vale ressaltar também que esse livro foi escrito em 1966, portanto, no auge da Guerra Fria. Então encontraremos na leitura vários termos como Cortina de Ferro, e também certos países como Tchecoslováquia, Iugoslávia e União Soviética. Para nós contemporâneos, todos esses nomes soam velhos e históricos demais, mas serve pra gente lembrar que tudo isso existiu mesmo, rs.

Infelizmente, a Record publicou só dois dos dez volumes da série, escrita entre 1965 e 1975. Diferente do volume anterior, Roseanna (link no começo do post), esse foi bem fraquinho, mas ainda assim foi uma boa leitura porque podemos conhecer a mentalidade daquela época, refletida nos valores de Beck e também nas descrições de pessoas e lugares. Apesar de eu ter esperado mais da obra, a única coisa que salva é saber se o homem virou fumaça mesmo (o título em Portugal é "O Homem que se Desfez em Fumo", não consigo não rir).


Olá!

Desde abril eu tinha separado uns trocados do FGTS para comprá-lo, assim que saiu a pré-venda, o comprei. Juro que este livro era muito esperado por mim este ano. No dia seguinte que a Amazon entregou meu exemplar, já comecei a ler. Nenhuma resenha que eu fizer jamais estará à altura dessa série moldadora de caráter, mas vem entender o que aconteceu no quinto volume da série Millennium, o "amarelão" mais bonito da literatura, segundo eu mesma.
Resnhas Anteriores: Os Homens que Não Amavam as Mulheres - Livro | Filme
A Menina que Brincava com Fogo - Livro | Filme
A Rainha do Castelo de Ar - Livro | Filme
A Garota na Teia de Aranha - Livro

SKOOB - Neste volume, O Homem que Buscava sua Sombra começa com Lisbeth Salander presa. Minha protagonista feminina favorita pegou uma pena de dois meses por ter cometido alguns pequenos crimes no livro anterior, até que conseguiria se safar, mas já sabendo como é, ela simplesmente se resignou, dificultando o trabalho de sua advogada, mas, desde que estivesse em paz resolvendo seus problemas matemáticos e de informática, tudo bem passar uma curta temporada na cadeia.

Na prisão feminina de Flodberga, duas figuras chamam a atenção de Lisbeth. A primeira é Benito, nome de certidão Beatrice Andersson, que toca o terror no presídio inteiro, literalmente. Ela tem um par de punhais e muitos contatos do lado de fora e todos lá dentro a temem, até mesmo os agentes carcerários. A outra é Faria Kazi, uma jovem muçulmana que está cumprindo pena por ter matado seu irmão. Ela é vizinha de cela de Lisbeth e, toda vez que o relógio marca sete e meia da noite, o trem de carga passa pelo presídio e, encoberta pelo estrondo, Faria é brutalmente agredida por Benito.

Nós sabemos que Lisbeth não é muito fã de injustiças e fica revoltada quando percebe que ninguém levanta um dedo para defender a jovem. Enquanto repara na cela ao lado, Lisbeth tem suas próprias preocupações, sendo elas referentes ao seu passado. Todo mundo sabe que, aos 12 anos, cansada de ver a mãe sendo agredida e violentada, ela tacou fogo no pai, um ex-agente soviético. Ela foi levada para uma clínica psiquiátrica e todo seu martírio começou. Mas o que aconteceu antes disso?

Antes de chegarmos no que é importante, preciso dizer que Mikael Blomkvist dedica as suas sextas a visitar Salander. Ele também tem suas preocupações, como as constantes atualizações no site da Millennium, além de conferir os últimos detalhes da próxima edição do periódico, além de estar procurando mais um furo bombástico. Mas tudo ficará em segundo plano quando Lisbeth lhe pede para investigar um certo Leo Mannheimer, um jovem bem nascido que tem algumas coisas em comum com ela. Esse nome surgiu quando Salander investigava sobre seu passado e deu de cara com uma certa investigação "científica".

Enquanto ele tenta apurar algumas informações sobre Mannheimer e sua corretora de valores, uma certa noite, Salander, revoltada com a omissão dos agentes diante das agressões sofridas por Faria, ela mesma toma uma decisão e simplesmente ataca Benito, causando lesões graves. Benito é socorrida e o presídio percebe que alguma coisa pesada vai acontecer. Finalmente, a favor de Fari e Salander, o agente Alvar Olsen.

Blomkvist vai conhecer o tal Leo, sócio de uma corretora de valores, que tem hiperacusia (ouvido hipersensível) e um talento nato para a música. Eles se conheceram através de Malin Frode, amiga de Leo e também de Mikael. Depois da agressão, Lisbeth, como sempre, se cala diante das acusações, mas ordena que sua advogada, Annika Giannini, defenda Faria, pois sabe que a investigação em torno do assassinato do irmão da jovem foi muito mal feita.
A coleção só aumenta <3
Esse volume é uma avant-première do que vai acontecer no sexto e último. O Homem que Buscava sua Sombra está contextualizado com os acontecimentos da década, em que abordará diversos temas atuais, sem deixar de lado as personalidades de cada personagem. Por exemplo, Faria é muçulmana e se apaixonou por um certo Jamal, que denunciava diversas irregularidades sofridas pelo povo de Bangladesh, terra natal dele e dos Kazi. Jamal tinha um blog em que opinava sobre política, além de ser contrário ao movimento secularista de seu país, ou seja, era mais ou menos como Yoani Sanchez, que denunciava (ainda denuncia) via Twitter, várias coisas que acontecem em Cuba.

Mas os irmãos de Faria querem casá-la com um empresário do ramo têxtil, em mais um desses casamentos forçados que tanto vemos. Somando isso aos pensamentos retrógrados dos irmãos, Faria viveu um inferno quando se viu impedida de ver seu amor, que morreu na linha do trem. Aqui vemos um bom exemplo do que faz a religião quando esta se mistura à política e outros terrenos em que somente deveríamos ouvir a razão.

Salander e Blomkvist vão se encontrar muito pouco, porém teremos muitas revelações bacanas, como por exemplo, finalmente saberemos porque ela tem uma tatuagem de dragão nas costas. David já contou, em vídeo exclusivo ao portal G1, o que o levou a pensar na motivação de Lisbeth para a tatuagem. E só sei que, se Stieg pensou na mesma coisa, David acertou um chute genial. Posso dizer que, assim que descobrimos, é como receber um soco no estômago (soltei uns palavrões enquanto lia, no metrô).

As revelações que Lisbeth encontrará sobre ela, sua irmã Camilla, Leo Mannheimer e milhares de outros gêmeos univitelinos (os idênticos) será de cair o queixo, o autor está de parabéns por ter pesquisado tanto sobre isso e também sobre hiperacusia e notas musicais (eu já tinha lido sobre notas no As Cordas Mágicas, falei dele aqui, e também vi o filme "Born to Be Blue", cinebiografia de Chet Baker, então foi menos difícil para eu entender tantos termos técnicos). Além, claro, de diversas outras informações sobre política, saúde pública e bolsa de valores.

Tenho que admitir que, quando vi o livro por completo pela primeira vez (via redes sociais da editora) me assustei com a brochura. Como assim o livro é fininho?? (fininho em relação aos demais livros, tem só 359 páginas; meu medo é que o próximo tenha umas duzentas, já que o quarto tem cerca de 400, vai que a quantidade de páginas é decrescente...), mas isso não tirou minha vontade de ler, pelo contrário, li bem devagar, que era pra não acabar.

Ainda sobre a contextualização da série para 2017, essa é uma vantagem de termos mais histórias da única dupla possível, pois se Lisbeth fazia e acontecia com um palmtop, imagina agora, que temos iPhones e Androids? A Millennium está na internet e nas redes sociais, mais do que nunca, todo mundo tá no Facebook interagindo (como se fossem super entendidos dos temas). David aborda o terrorismo, a intolerância, como ficou mais fácil conseguir informações, mas mais difícil de checá-las (vi isso em vários livros e na faculdade).

Uma coisa muito fofa que não posso deixar de dizer é que (jamais saberemos se Larsson pensou nisso) Blomkvist nos revela que decidiu ser jornalista após assistir, ainda criança, Todos os Homens do Presidente (filme obrigatório para os estudantes de Jornalismo, quem não assistiu é poser). De repente me bateu uma saudade da faculdade, já que foi lá que tive contato com o filme (que não tem na Netflix, infelizmente). E essa passagem me fez lembrar porque eu optei pelo jornalismo - decidi depois que participei do jornal da escola.

Tenho que admitir que esperava mais do final, me pareceu meio corrido, mas, como é o livro que nos situará no derradeiro, Lagercrantz precisou ser bem detalhista. E sim, mesmo com muita gente torcendo o nariz, não posso deixar de aplaudir o autor, pois ele precisou criar novas histórias, contextualizar em nossa sociedade sem deixar de desmembrar a espinha dorsal de cada personagem. E querendo ou não, muitos jovens estão se interessando pelos volumes de Larsson graças a David, que trouxe para a nova geração a exceção da exceção dos romances policiais - porque eu já li vários suecos, mas ninguém será como Stieg Larsson, nem se ele tivesse tido um ou vários filhos.

Para terminar, como o último só saíra em 2019, eu não sei o que farei até lá. Enquanto isso, ano que vem sai o filme do quarto livro (e não sei se choro ou rio com a escolha da Claire Foy; nada contra ela, mas não tem cara de Salander nem ferrando), as versões suecas saíram da Netflix, meu coração chora ao ver a versão americana e não sei se conseguirei reler tudo (acho que não). Com certeza lerei outros romances policiais (tenho vários aqui, rs), enquanto torço pra que o autor venha para São Paulo - ele estará na Feira do Livro de Porto Alegre, mês que vem - e que não escolham um ator muito ruim para ser o novo Blomkvist - mas ainda assim criticarei porque Mikael Blomkvist é um só.

P.S.: no canal da Companhia das Letras no Youtube, tem três vídeos bem curtinhos em que David Lagercrantz, como um bom discípulo da "palavra de Larsson", mostra o endereço da Millennium e os apartamentos de Blomkvist e Salander. Deixaria os vídeos aqui, mas o post ficaria maior do que está.



Olá!

Todo mundo sabe que amo a série Millennium e irei protegê-la, então, depois de muito torcer o nariz, resolvi ler o quarto livro, A Garota da Teia de Aranha. A leitura foi infinitamente melhor do que eu esperava, e assim como nos livros anteriores, não tenho palavras para descrever essa história.

P.S.: nunca, jamais, na face da Terra, (na minha opinião, claro) haverá outro Stieg Larsson. Ele foi um fenômeno único, então acredito que seja uma enorme falta de respeito comparar David a Stieg. De todos modos, Lagercrantz merece aplausos. É um excelente discípulo, seguidor fiel da "palavra de Larsson". Provavelmente haverá spoilers dos outros livros.
Resenhas Anteriores: Os Homens que Não Amavam as Mulheres - Livro | Filme
A Menina que Brincava com Fogo - Livro | Filme
A Rainha do Castelo de Ar - Livro | Filme
SKOOB - Estando consciente que David não é Stieg, antes mesmo de aparecerem nossos personagens favoritos, A Garota na Teia de Aranha vai nos apresentar o professor Frans Balder, considerado por muitos um gênio fora de série da informática. Ele trabalhava numa empresa no Vale do Silício, mas deixou tudo para trás e voltou para Estocolmo para cuidar de seu filho August, de oito anos, cuja existência só era lembrada no dia de pagar a pensão.

Enquanto Frans está no apartamento de sua ex-esposa, uma atriz que outrora fora exitosa, Mikael Blomkvist está em seu apartamento, questionando sua existência enquanto jornalista. Desde seu último grande furo (o plot twist de A Rainha do Castelo de Ar), ele vinha caindo numa espiral de trabalhos medíocres e críticas, muitas críticas. O ano é 2015 e as redes sociais estão a todo vapor. Há até mesmo uma indigesta hashtag em sua homenagem (#naépocadeblomkvist) em que as pessoas comentam que a Millennium está em derrocada e coisas que o valha.

Pior é que a revista realmente não está em seus melhores dias. O grupo Vanger, lá do primeiro livro, retirou-se do quadro de acionistas da Millennium e acabou indo parar nas mãos de um certo grupo norueguês, cujo representante (também jornalista) era podre de rico, mas sentia uma inveja descomunal de Blomkvist. Erika Berger continua dando o seu melhor, mas se vê envolta em dívidas quando resolve contratar dois profissionais de alto nível.

Lisbeth Salander, sempre vivendo à margem, resolve dar seu grande golpe quando resolve simplesmente hackear um órgão do governo norte-americano. Claro que ela tinha lá seus motivos, porém, por questões do momento, acaba descobrindo a existência do professor Balder, que está sendo procurado por Deus e o mundo. Balder, aliás, está em perigo iminente, mas deixa tudo isso de lado quando descobre que seu filho não é apenas autista (síndrome de Asperger, na verdade), mas um savant - alguém que tem uma grande capacidade intelectual, mas ao mesmo tempo não é tão inteligente assim. Ex.: uma criança que consegue calcular diversas sequências de números primos, mas ao mesmo tempo mal sabe assinar o nome.

Frans Balder é assassinado, por saber demais sobre um certo software, e seu filho é a única testemunha, o que faz ser procurado, mas acaba indo parar na improvável companhia de Salander, que terá apenas Blomkvist como seu aliado, porque, além de não confiar na polícia, está procurando por uma certa Camilla, com quem tem uma dívida bem antiga.

Socorro, me abana porque eu tô chocada com esse livro!!! Agora, quero confessar que, durante o ensino médio, eu fiquei de recuperação anual de matemática OS TRÊS ANOS. Então, por mais que eu ame Millennium, me sentia burra cada vez que Lisbeth nos deleitava com seus avançados conhecimentos matemáticos. Sou de humanas, então não quero imaginar o trabalho que o autor teve em pesquisar um monte de conceitos tanto de matemática como de informática e até de inteligência artificial.
Vem, Millennium 5, completar minha coleção!
Em entrevista, Lagercrantz disse que, enquanto escrevia os livros, ele entrou num estado maníaco-depressivo. Talvez eu o tenha entendido. Eu também entraria em depressão só de ter que pesquisar sobre curvas elípticas, números primos e toda a caralhada de coisa que ele descreveu, não só da Lisbeth como também do pequeno August, pra quem torci para que ficasse bem - pode ser o livro que for do gênero que for, se tiver criança especial (principalmente se for Asperger), vou torcer por ela.

Além de matemática, o livro não esqueceu de abordar os abusos do Estado contra quem não pode se defender, mas também focou em violência doméstica (a mãe de August apanhava do marido), na discussão sobre privacidade e claro, relações familiares. O casamento de Erika está em crise, Pernilla, filha de Mikael (sim, ele tem uma filha, que apareceu no primeiro livro, alguns segundos no filme americano e nem foi lembrada no filme sueco) aparece para dizer que vai começar um curso para "aprender a escrever de verdade", a família da Lisbeth... bem, essa é um caso à parte.

Como eu já disse lá no início, David não é Stieg, mas seu trabalho é digno de aplausos. Ouvi dizer de algumas pessoas que o livro mais parecia uma fanfic, outros disseram que Lisbeth apareceria só dois segundos, enfim, chuva de críticas. Mas ele escreveu uma incrível história, relembrando personagens dos livros anteriores e inserindo novos, sem perder a espinha dorsal da trama, tampouco desvirtuando ou modificando as personalidades dos principais personagens.

Lisbeth Salander continua sendo meu ideal de mulher, lutando com unhas e dentes por sua vida e seus interesses, inteligente, linda, maravilhosa e autêntica - o que é mais importante. Mikael Blomkvist é meu ídolo do jornalismo, continuo com a mesma impressão que fiquei quando assisti o primeiro filme (lembrando que vi o filme antes do livro e antes mesmo de saber quem raios era Stieg Larsson): se um dia eu tiver 10% da capacidade dele, estou satisfeita. Erika Berger segue com a mesma garra e comando (e o mesmo marido e o mesmo amante) e prestem atenção num certo Andrei Zander, novato na Millennium, mas de grande potencial.

Vale ressaltar que, agora sim, este livro foi traduzido direto do sueco. E isso é uma coisa que valorizo muito num livro, se foi traduzido de alguma edição anglófona/francesa ou da língua de origem. Os meus exemplares anteriores são da capa antiga (muito mais bonita que essas novas) e traduzidos da edição francesa. Ficou bom, mas nada se compara a ler traduzido do idioma de origem, praticamente não se perde nada de tradução.

No mais, que venha os próximos volumes - o quinto eu comprei na pré-venda e o sexto só em 2019. David Lagercrantz já avisou que o sexto é o último, então vou ler bem devagar, que é pra não acabar. (Na verdade eu queria mesmo era ler o volume inacabado que Larsson deixou, que está em poder da viúva e embargado pelo pai). A Companhia está de parabéns pela edição impecável. A única vantagem de eu ter as capas diferentes é que terei duas coleções em uma: três de Stieg e três de David.

P.P.S.: rezando para a versão cinematográfica desse filme esteja à altura. Rooney Mara foi descartada e Noomi Rapace não quer mais interpretá-la. Daniel Craig (também descartado, graças a Deus) voltou a ser James Bond e Michael Nyqvist morreu no meio do ano. Desconheço Claire Foy, mas é visível que ela não tem cara de Lisbeth. Nem quero ver quem será o novo Mikael Blomkvist... O filme de A Garota na Teia de Aranha tem previsão de estreia para outubro do ano que vem.




Olá!

Estou feliz, mas por dentro estou chorando. Terminei de ler A Rainha do Castelo de Ar e, sei que de agora em diante nada mais será igual. A "palavra de Larsson" já foi escrita. Mas todo dia é um excelente dia para louvá-lo. Justamente por isso que hoje é a vez dele ser resenhado. Provavelmente haverá spoilers de A Menina que Brincava com Fogo.
Os Homens que Não Amavam as Mulheres - Livro | Filme
A Menina que Brincava com Fogo - Livro | Filme
A Rainha do Castelo de Ar - Filme

SKOOB - A Rainha do Castelo de Ar vai começar exatamente do ponto de onde parou o anterior. Lisbeth comendo o pão que o diabo amassou nas mãos de Zala, o que culminou com um tiro na cabeça, sendo salva por Mikael Blomkvist. Ela e Zala são levados para um hospital, onde ficam separados por dois quartos de distância.

Lisbeth Salander está sendo procurada em todo o país, acusada de ter matado seu tutor Nils Bjurman, o jornalista Dag Svensson e sua namorada Mia Bergman, colaboradores da Millennium. Só que um novo personagem surge: Ronald Niedermann, que ninguém sabe que é filho de Zala, portanto, meio-irmão de Lisbeth, já que a mãe dele é alemã.

Niedermann estava junto com Zala na tentativa de matar Salander. Ele foi o único que conseguiu fugir, um homem de quase dois metros e que tem analgesia congênita - uma doença em que a pessoa não sente nenhum tipo de dor. Mikael consegue detê-lo, mas como o jornalista fez umas cagadas com os policiais que atenderam o caso, acabou fazendo com que, indiretamente, Niedermann fugisse, já que ninguém ligou pro que ele dizia (dois oficiais não são suficientes para segurá-lo).

No hospital, Lisbeth encontra no dr. Anders Jonasson um amigo, pois é ele quem opera seu crânio, retirando 32 fragmentos de ossos (sendo o maior deles invisível a olho nu). O dr. Anders vai cuidar dela, sem se importar se ela é uma jovem vítima de abuso ou uma assassina sedenta por vingança. Ela está isolada, proibida de receber visitas. Novas investigações comprovam a inocência dela do triplo homicídio, mas ainda tem gente que quer interná-la num hospício.

E essa gente é a Seção. Um grupo secreto da Säpo (a polícia secreta sueca, que existe de verdade, como muitos detalhes que o autor coloca ao longo do texto) formado por policiais nacionalistas (e racistas, diga-se de passagem) que resolvem dar asilo político a um certo Alexander Zalachenko, dissidente da KGB, a polícia secreta soviética. Essa Seção tinha como objetivo cuidar para que Zala permanecesse no mais absoluto sigilo.
Netflix, meu amor, que dia que os filmes voltarão para seu catálogo?
Só que Zala se relacionava com uma certa Agneta Sofia Salander. Batia nela dia sim e dia também, tanto que acabou tendo graves lesões cerebrais. Ela teve as filhas Camilla e Lisbeth, e foi Lisbeth que tomou a drástica decisão que mudaria sua vida: fez um coquetel molotov e tacou fogo no pai, o que a levou imediatamente para a clínica Santk Stefan, dirigida por Peter Teleborian. O primeiro de muitos abusos sofridos por ela.

Deixando um pouco da Seção e da vida pregressa de Lisbeth, Erika Berger, editora-chefe e acionista da Millennium (e amante de Blomkvist, com o aval do marido) recebe uma irresistível proposta do jornal Svenska Morgon Posten (que não existe), e depois de muito pensar, acaba aceitando, deixando-lhe num carrossel de emoções. No SMP, ela é recebida por Morander, que está em vias de se aposentar. Só que, de repente, ele morre e ela precisa cuidar de tudo.

Ela tem o auxílio de Peter Fredriksson e a hostilidade de Lukas Holm, o editor de Atualidades. Ele é bom no que faz, mas adora passar por cima das decisões dela. Fredriksson é assistente de redação. Os primeiros dias foram bons, mas Erika começou a receber emails ofensivos, com conteúdo sexual. Como não sabia a quem recorrer, foi deixando isso de lado.

No hospital, Lisbeth está isolada, mas vai contar com o apoio e a defesa inestimáveis de Annika Giannini, advogada especialista em Direitos da Mulher - e irmã de Blomkvist. Finalmente Annika vai receber o merecido destaque como a brilhante advogada que é, mesmo sem dominar muito o Direito Criminal, e tampouco receber muitas respostas por parte de Lisbeth, ela vai driblando as adversidades que lhe aparecem e assim tentar mostrar a todos que Lisbeth Salander é inocente. E rápido, porque o julgamento dela está próximo.

Existem romances policiais, existem romances policiais escandinavos e existe Millennium. Amém. No volume derradeiro escrito por Larsson, as mulheres terão muito destaque. Além da Lisbeth, que dispensa comentários, tem Annika Giannini, que se destaca pela persistência, apesar de ainda ter um pé atrás com o comportamento de Salander (como defender uma jovem que mal abre a boca para responder as perguntas?), tem Erika Berger, que controla o SMP com pulso firme (e não de ferro), tendo que aguentar tipos como Lukas Holm e o cara que vai assediá-la. Tem Sonja Modig, a policial que não se intimida diante de um Zalachenko que, mesmo doente e com uma machadada na cara, ainda se acha o senhor da razão, uma certa Rosa Figuerola, da Säpo, que, junto com Blomkvist, vai descobrir os pormenores da Seção, e assim por diante...
A Cia. das Letras também publicou a biografia de Stieg, que conta a história dele, da Suécia e dos romances policiais.

Diferente do filme, que cortou mais da metade da história em nome da agilidade que o cinema permite (senão o filme ultrapassaria fácil as três horas de duração), o livro conta com uma riqueza de detalhes impressionante: o passado e o presente de Lisbeth, o dia-a-dia de Erika no SMP, os pormenores da política sueca, misturando personagens fictícios com reais, e como Mikael, mesmo sendo o fucking jornalista que é, não consegue controlar o pinto, pra ele, não importa quem molhou, ele vai passar o rodo. Gente como a gente (ou não).

O mais incrível é que o livro tem incontáveis personagens, e ainda assim o autor não se perdeu e escreve a trama de um modo que o leitor não vá se perder, mesmo que ele more no Terceiro Mundo. Como é sabido, Larsson era de esquerda, anti-nazista, antirracista, feminista, antissemita, defensor das minorias (não à toa vivia sob ameaça, por isso nunca se casou e a mulher que conviveu com ele 30 anos não recebeu um centavo dos royalties), e isso é visível em Blomkvist (um possível alter ego?), ele defende Lisbeth com unhas e dentes, como o amigo que ele é, além de ter uma moral que beira o impecável.

Voltando às mulheres do livro, conforme eu ia lendo, minha vontade era de entrar na história e abraçar a Lisbeth, a Erika e a Annika, cada uma envolvida com um escândalo particular, mas, por incrível que pareça, elas estarão unidas em algum momento. Lisbeth foi vítima de abusos por parte do estado sueco por anos, porque preferiram dar asilo a um dissidente de uma república que logo depois se desfragmentaria a ouvir uma menina vítima de maus tratos. Erika vivia às voltas com seu stalker que, não contente em mandar emails pornográficos, invadiu sua casa e roubou um dossiê importante e diversas fotos de caráter pessoal. Annika precisa lidar com a desconfiança da polícia em garantir que Lisbeth seria inocentada, dada sua inexperiência em casos desse tipo.

Guardadas as devidas proporções, são mulheres como nós, que precisamos provar dia a dia que somos tão (ou mais) capazes do que os homens para fazer qualquer coisa. Seja dirigir um jornal diário ou dominar a informática. Aliás, o cérebro de Lisbeth continua inteligente e sua memória fotográfica - que ela não gosta - continua funcionando perfeitamente, para a alegria geral dos fãs! Inclusive, o cérebro dela funciona mais que perfeitamente bem, porque não é possível ela fazer aquelas benditas contas para saber quantos passos a separavam do quarto do pai, no hospital.

Com muita dor no coração, termino de ler a palavra de Larsson. Claro que temos os filmes e a sequência do Lagercrantz (que espero ansiosamente, confesso), mas Stieg faz falta demais, mesmo tendo passado quase treze anos de sua morte, ainda não me conformo que ele tenha deixado sua obra incompleta - e uma legião de fãs. No último dia 15, todo mundo que curte literatura policial lembrou de seu aniversário - faria 63 anos - e eu, claro, escrevi um artigo em sua homenagem lá no site da revista Nova Millennium. Talvez esteja meio sem pé nem cabeça, mas foi porque escrevi de coração, sem roteiro e em 40 minutos. O texto é este aqui.

"No fim das contas, o tema principal desta história não são nem os espiões nem os organismos secretos dentro do Estado, e sim a violência de todos os dias cometida contra as mulheres, e os homens que tornam isso possível."



Olá!

Como é de conhecimento público, amo romances policiais. E se eles vêm da Escandinávia (principalmente Suécia), melhor ainda. Nesta região, acho que o gelo é abençoado e por isso brota tanta história boa. E como todo bom livro, via de regra, vira filme ou série de TV, e, às vezes é a única ferramenta que temos para conhecer grandes histórias. Então, falemos de Wallander - versão da BBC.
Com 4 temporadas de três episódios cada (cada episódio equivale a um livro), a série vai contar a história do inspetor policial Kurt Wallander, que mora na simpática região de Ystad, na Suécia. Por mais que seja um lugar bucólico (e fofinho), lá ocorrem crimes macabros - que se tornam muito tensos quando olhamos o contexto atual do país (igualdade entre os sexos perto do ideal, IDH perto do 1, direitos trabalhistas sendo respeitados e assim por diante). É a função de Kurt desvendá-los.

Em paralelo às suas investigações, também podemos conferir um pouco da vida pessoal do inspetor: seu pai tem Alzheimer, sua ex pediu o divórcio, mas ele acha que pode salvar o casamento, a filha que volta-e-meia some e aparece... Enfim, problemas que qualquer ser humano possa vir a ter, o que torna a série mais palpável para o público.

Na Netflix está disponível a versão da BBC, que merece os parabéns por ter feito uma produção impecável, aproveitando ao máximo as paisagens locais. A primeira temporada foi ao ar em 2008 e a última, no ano passado. Mas as negociações datam de 2007, quando Kenneth Branagh se reuniu com Henning Mankell para discutir sobre a série. Mas é claro que, antes da BBC, a Suécia fizera sua versão da série, que foi ao ar entre 2005 e 2013.
Equipe de Kurt na primeira temporada. A partir da esquerda: Anne-Brit (Sarah Smart), Martinsson (Tom Hiddleston) e Lisa Holgersson (Sadie Shimmin)
Sobre as atuações, há muitas mudanças ao longo da temporada, então vou me ater somente à mais importante: a de Kenneth, que me conquistou com seu personagem logo nos primeiros minutos do primeiro episódio (porque sou assim com séries, tem que me conquistar de cara). Claro que todo mundo tem sua importância à série, porém muita gente entra-e-sai ao longo das temporadas, por isso prefiro falar só dele, mas aproveito e cito a brilhante Jeany Spark, como Linda Wallander, filha de Kurt.

Aproveitando o texto, falemos dos livros. A série escrita por Henning Mankell entre 1991 e 2009 tornou-se sucesso instantâneo. Claro que ele já era conhecido no país por seus diversos livros voltados para o público infantil, mas foi com Wallander que ele se consagrou como o maior escritor da Suécia (segundo os próprios suecos), superado somente por um tal de Stieg Larsson... Além de escritor, ele adorava teatro e, entre idas e vindas pela África, acabou fundando o Teatro Avenida, em Maputo, capital de Moçambique (será que ele falava português?).

Pelas minhas contas, são 11 livros sobre Kurt e mais um tendo Linda Wallander como protagonista. Aliás, sobre o livro de Linda, a ideia de Mankell era criar um spin-off de três volumes sobre a jovem que tinha acabado de se formar policial (será que acontece na série? deixo o questionamento pra vocês), porém, a atriz que interpretava Linda no seriado sueco cometeu suicídio, o que levou o autor a desistir da sequência (infelizmente perdi a fonte em que li esta notícia).
Um dia terei um lar só pra colocar uma placa com meu sobrenome, algo bem comum na Suécia. Foto: site Henning Mankell
Cada episódio da série dura uma hora e meia, e justamente por isso demorei tanto a terminar - poxa, estou acostumada séries com, no máximo, meia hora de duração cada um. Porém, cada vez mais me via envolvida na trama, tentando, ao lado de Kurt, resolver cada crime, cada questionamento proposto. Kenneth se entregou demais ao personagem, fazendo com que eu passasse a acreditar que ele era real. E quando o inspetor começou a esquecer algumas coisas, meu coração passou a doer um pouquinho, porque não queria que acabasse a série...

Não entendo muito de fotografia, mas filmaram a série de modo a deixar o ambiente todo nublado, ressaltando mais os tons sombrios e escuros e sempre focando Kurt solitário. Como se quisessem mostrar que ele é gente como a gente, tem seus medos e incertezas. Suas perspectivas não são as mais positivas, mas ele acaba se mostrando muito inteligente, mesmo expondo tão pouco de si. É só mais um homem em busca de justiça.

No Brasil, a Companhia das Letras detém (até segunda ordem, pelo menos) o direito exclusivo de publicar as obras de Mankell. De novo pelas minhas contas (sou de humanas, gente), a editora publicou oito, mas eu só consegui dois até o momento (A Quinta Mulher e Um Passo Atrás), mais adiante pretendo trazer as resenhas de ambos. Mesmo ainda não tendo lido, recomendo demais a série, e, como está na Netflix, vale a pena acompanhar.

Henning Mankell faleceu em 2015, na cidade sueca de Gotemburgo. Além de escritor, era diretor e dramaturgo. Foi casado com Eva Bergman, filha do lendário cineasta Ingmar Bergman. Apesar de seus vários livros, a série de Kurt Wallander é considerada sua obra-prima.


Olá!

Vocês acharam que eu ia ficar muito tempo longe dos romances policiais? Erraram! Isso porque, graças a Ani, do Entre Chocolates e Músicas, que tem parceria com a Rocco, eu pude ler Terceira Voz, do casal Rolf e Cilla Börjlind - um dia eu aprendo a pronunciar esse sobrenome. A resenha original foi postada no EC&M.
SKOOB - Terceira Voz é o segundo livro da série protagonizada pela aspirante a policial Olivia Rönning, que está numa péssima fase de sua vida, por isso resolveu tirar um ano sabático após concluir seu curso na Academia de Polícia sueca. Quando ela volta do México, Olivia – que decide mudar seu sobrenome para Rivera – cai de paraquedas num certo caso policial – mais do que deveria. Olivia fez o curso, mas optou por não seguir carreira na polícia.

Numa certa noite, a jovem Sandra Salhmann encontra seu pai, Bengt, pendurado pelo pescoço no teto de casa. Tudo indica suicídio, porém a hipótese cai por terra quando se descobre que Bengt estava investigando o roubo de uma grande carga de drogas na Alfândega, onde era funcionário.

Enquanto isso, em Marselha, na França, os pedaços de uma mulher são encontrados em diversos lugares da cidade, investigações prévias descobrem que a vítima se chamava Samira, era cega e fazia filmes pornô para sobreviver.

Abbas el Fassi conhecia Samira de longa data e, revoltado com a notícia da morte da moça, resolveu ir até a cidade francesa, para descobrir o que aconteceu e punir os culpados. E Abbas é um exímio atirador de facas. Ele resolve convidar seu amigo, o ex-policial Tom Stilton, para ir com ele nessa jornada.
Abbas, Tom e Olivia acabarão por saber que, de certa forma, os assassinatos de Bengt Sahlmann e Samira não são só coincidência. E podem estar muito interligados, apesar da distância entre Marselha e Estocolmo. Logo, querendo ou não, os instintos investigativos de Olivia e Tom ressurgirão com toda a força.

Eu vou dizer o que desse romance? Isso mesmo, que não tem como eu não enjoar de scandi-crime, o romance policial escandinavo. Por mais que eu já tenha lido vários – e vários num curto espaço de tempo – cada autor tem sua particularidade. E não é diferente com o casal Börjlind (ainda não aprendi a pronunciar o sobrenome). Os personagens são humanos, mas com aquele ingrediente que não pode faltar em nenhum romance policial – independente da nacionalidade: o protagonista sempre priorizará a justiça, colocando todo o excedente em segundo plano – e isso inclui família e amigos.

Além de Olivia e Tom (que não se falam porque ela tem ressentimentos com ele, por causa de uma certa situação ocorrida no livro anterior, Maré Viva), os outros policiais também são essenciais na história, como Mette Olsäter, a detetive-chefe, com seu faro, conhecido e respeitado em todo o país. Mette e seu marido Mårten (se pronuncia Morten) são amigos de longa data tanto de Olivia quanto de Tom, mas por causa da decisão de Olivia de não se tornar policial acaba balançando um pouco a relação das duas.
E como é de praxe, a sociedade – em suas piores facetas – são exibidas no livro como se fosse um aviso de que nem tudo é perfeito na Suécia. Lá também tem problemas sociais, como a corrupção, violência contra a mulher, desvio de verbas públicas e por aí vai. A crítica social é feroz, mas sutil; a trama aponta as feridas de uma nação que, mesmo muito desenvolvida, ainda tem suas falhas.

Vim conhecer o casal Cilla e Rolf justamente por causa desse lançamento, até então nem sabia que a Rocco publicava romances policiais. Então, pedi – implorei – para a Ana tentar um exemplar para mim, e não me arrependo de ter lido, isso porque as 461 páginas voam (se eu tivesse mais tempo livre, teria lido em uns dois dias). Terceira Voz me foi uma grata surpresa, apesar de, na tradução, a tradutora ter se empolgado e escrito umas palavras que nem minha avó, se estivesse viva, usaria, de tão arcaicas que são. Mas isso não me incomodou, só surpreendeu. O trabalho da Rocco ficou muito bom, agora só me resta juntar a grana e ter o Maré Viva, porque alguns pontos que se resolveram neste livro, foram iniciados no anterior.

Leitura fortemente recomendada. E Ani, obrigada pelo livro.

P.S.: leitor, leia este livro em uma posição bem confortável, porque quando você descobrir porque o título é Terceira Voz, vai cair da cadeira. De surpresa.




Olá!

Talvez, só talvez, eu curta um scandi-crime (agora que descobri esse termo, quero usar pra sempre). E ler mais uma obra escrita pelo islandês Arnaldur Indridason é sempre um prazer. Confira a resenha de O Segredo do Lago.
SKOOB - O Segredo do Lago vai começar com uma hidrologista encontrando um corpo num espaço que outrora fora um lago. O mais curioso disso é que, junto ao corpo foi amarrado um dispositivo de origem russa. E só uma pessoa poderia cuidar desse caso (uma pessoa que ama investigar desaparecidos).

Nosso amado detetive Erlendur Sveinsson estava na santa paz de suas férias, remoendo seu passado, até que recebesse a ordem para cuidar do caso. E claro que não fará isso sozinho, vai contar com a ajuda de seus parceiros Elinborg, que acabou de lançar um livro de receitas que está sendo bem aceito pela crítica, ficando conhecida como "a detetive gourmet", e Sigurdur Oli, que tem um problema com um certo homem, que liga para ele para conversar com o investigador como se este fosse algum psicólogo.

Em paralelo a essa história, Tómas vai estudar em Leipzig, na então Alemanha Oriental, pois está deslumbrado com o socialismo. Ele conhece algumas pessoas, incluindo a húngara Ilona, com quem se apaixona. Lembrando que Tómas estudou lá nos anos 50, quando o socialismo e o comunismo estavam bombando. Claro que Tómas não conhece Erlendur (nem daria), mas as duas histórias, em certo momento, se tornarão uma só.
A grande sacada desse livro é conhecer o sistema prisional na Islândia. Me surpreendi quando descobri que roubo de carro e assalto são considerados "crimes de pequeno porte", não são tão relevantes assim, segundo consta na história, tem até policial que diz pra vítima que não precisa fazer B.O. Como assim???? Durante a história, conhecemos mais do território islandês (que é mais que um pedaço de gelo no oco da Escandinávia).

Já na vida pessoal, Erlendur conhece Valgerdur, uma mulher casada, mas que acaba se envolvendo com o detetive - inclusive shippo esse casal e espero que eles fiquem juntos em algum outro livro. Sua relação com os filhos continua ruim: Eva Lind continua se drogando e Sindri Snaer aparece do nada e resolve morar em Reyjkavik - lembrando que os filhos do Erlendur sofreram alienação parental na infância, agravados pelo fato de que o pai foi embora de casa cedo e cagou pra eles, praticamente.

O livro também mostra que o socialismo não é bom não, amiguinhos. Tanto que, quando Tómas descobriu do que se tratava, aí já era tarde, era socialista até a unha. O bom do romance policial é justamente isso: mostra o ruim e o péssimo de cada país. A Islândia tem lindas paisagens, mas que também tem seus problemas. Aliás, bem que poderiam chegar no Brasil mais autores deste país, tirando a Suécia, quase não conhecemos autores policiais escandinavos...
Aproveitem e anotem o código Dewey deste livro!
Para sair da zona de conforto, vale a pena sim ler O Segredo do Lago, que, mesmo traduzido da versão americana (não é todo mundo que fala islandês...), ganhou uma excelente versão da Cia. das Letras. A leitura flui muito bem e não tem como não gostar do Erlendur, mesmo ele sendo rabugento às vezes!

Aleatório: não é querendo elogiar, mas se um dia algum livro dessa série virar filme, pode chamar o próprio Arnaldur pra interpretar o Erlendur. Eu olho pro autor e vejo Erlendur, e não Arnaldur!




Olá!

Cumprindo o quinto tópico do Desafio 12 Meses Literários - cujo progresso você acompanha na imagem oficial, na sidebar - cujo tema é "um clássico" -, não poderia ter escolhido outro. Particularmente, não sou de ler clássicos, mas... é aquilo lá, né... me chama que eu vou. Eu tinha falado em algum outro post que só retomaria a leitura de romances policiais com A Rainha do Castelo de Ar, mas surgiram outros títulos na frente e quero ler Millennium 3 a conta gotas finalmente pude ler algo do casal Sjöwall-Wahlöö. Confiram a resenha de Roseanna.
SKOOB - Roseanna é o primeiro volume (de 10) protagonizado pelo detetive depressivo (e que vive às voltas com resfriados) Martin Beck. Ele é um dos melhores detetives de Estocolmo e seu caso envolverá uma jovem morta, cujo corpo foi encontrado durante a dragagem de um lago. Sabe-se muito pouco sobre essa mulher. Só depois de três meses de investigação, descobriu-se que seu nome era Roseanna McGraw, norte-americana e passageira do navio Diana.

Beck, acompanhado de seus colegas Kollberg, Ahlberg e Melander, precisa correr contra o tempo, apesar de que, um tempo considerável já havia passado entre o corpo ser achado e as primeiras informações surgirem. Mas este protagonista lacônico, obstinado e desacreditado do sistema, não vai tirar o caso da cabeça, isso porque, conforme ele vai investigando, vai tendo a certeza de que o assassino está muito perto, só precisava peneirar as informações recebidas.

Romance é um gênero literário muito antigo, romance policial também, mas o romance policial que a Escandinávia exporta e que conhecemos hoje muito se deve ao casal Maj Sjöwall e Per Wahlöö (não faço a mínima ideia de como se pronunciam os sobrenomes). Nos anos 60, a produção literária na Suécia estava muito abaixo dos padrões**, até que Maj e Per criaram Martin Beck, um investigador de polícia que faz de tudo para resolver suas investigações, mas que tem seus demônios pessoais. Sem querer (ou querendo), eles foram os primeiros a popularizar um subgênero do romance policial, o scandi-crime - termo que descobri recentemente e, a partir de agora, vou usar toda vez que trouxer um romance policial advindo desta região.
**Para entender melhor o momento histórico da Suécia nos anos 1960, vale ler a biografia de Stieg Larsson, publicada pela Cia. das Letras. Além de falar da vida e obra do autor, ele explica com detalhes o boom dos romances policiais que começou com o casal Sjöwall-Wahlöö.

Assim como todos (praticamente sem exceção) os detetives, Martin Beck não tem lá uma boa relação com sua família. Sua esposa vive reclamando que ele trabalha demais, que é ausente e passa pouco tempo com seus filhos. Além disso, o casal foi um dos primeiros a trazer para a literatura problemas reais da população sueca que, à época, não era a maravilha de país que é hoje. Beck era o reflexo do que os suecos procuravam: justiça. Claro que, nesse tempo, já tínhamos Hercule Poirot e Sherlock Holmes, mas eles não eram identificáveis pelo povo. Querendo ou não, o casal abriu as portas, revolucionando o gênero.

E, se eles revolucionaram o gênero, vale ressaltar que muita gente bebeu da fonte Sjöwall-Wahlöö, entre eles o norueguês Jo Nesbø (preciso ler algo dele urgente), Henning Mankell (só vi a série Wallander) e Stieg Larsson (amém). Aliás, no caso de Larsson, a idolatria dele pelo casal é visível em vários pontos dos livros Millennium, inclusive na forma de escrever. Digamos que tem muito do casal na história de Lisbeth Salander. Vale ressaltar que Stieg, quando ainda respondia por Karl Stig-Erland, era leitor assíduo da série.
A edição da Record caiu em minhas mãos na melhor hora. Na biblioteca que eu frequento tem dois títulos do casal, mas são edições portuguesas muito antigas, até tentei ler, mas quando abri a primeira página, não entendi nada. O português europeu - antes da primeira reforma - é muito diferente, aí acabei desistindo. Então, fiquei muito feliz por ver que a editora publicou não só esse, mas também o segundo, "O Homem que Virou Fumaça" (em Portugal ele se desfez em fumo, rs), que já garanti e logo trarei a resenha para vocês. Ah, e o papel que a editora usou é aquele que encontramos nos romances de banca (o amarelado, com cheiro de velho, que com certeza tem um nome específico), que me remeteu imediatamente à clássico, rs.

Em 1997, a série de livros virou série de TV, com diversos atores interpretando o detetive mais cansado que já conheci, sendo a versão com Peter Habor (5 temporadas) a mais famosa - e alçando ao sucesso um jovem Michael Nyqvist, ainda como coadjuvante...

E como eu empolgo toda vez que falo sobre um romance policial - principalmente se ele for escandinavo - tenho que dizer para vocês que os livros devem ser lidos sim, mesmo com toda a dificuldade que envolve as séries, que nós sabemos que nem todas são continuadas. A nosso favor, a vantagem de serem volumes não (tão) seriados, ou seja, até dá pra ler fora da ordem, mas fica aquela pontinha de tristeza, porque clássicos deveriam ser publicados sempre, mas é aquela história, editoras são empresas e precisam pensar no lucro também, senão fecham as portas. Termine de ler este texto e corra para ler Roseanna!



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