Olá!

A Ani, do Entre Chocolates e Músicas, conseguiu para mim um exemplar de A Mulher na Cabine 10, um thriller bem intrinsecado escrito pela britânica Ruth Ware. Mais uma parceria de sucesso entre mim, a Ani e a Rocco. Resenha originalmente postada no EC&M.
SKOOB - A Mulher na Cabine 10 nos apresentará a jornalista Laura “Lo” Blacklock de uma maneira bem tensa: com seu apartamento sendo invadido por um assaltante. Ele leva a bolsa e o celular dela, mas não sem antes quebrar tudo e deixá-la muito traumatizada. 

Porém Lo tem uma missão muito importante: viajar no famoso cruzeiro de luxo Aurora Borealis. O navio, de propriedade de um certo lorde Richard Bullmer, fará sua primeira viagem e, para isso, a nata da nata da sociedade mundial foi convidada. O objetivo principal do navio é fazer com que os presentes se sintam em casa – e possam ver a Aurora Boreal. E Lo estaria lá representando a revista de turismo para a qual trabalhava, substituindo sua chefe, que entraria muito em breve em licença-maternidade.

Só havia 10 suítes no navio e Lo ficaria na de número nove. Cada suíte tinha um nome de um escritor sueco – Bullmer tinha um pé na Escandinávia. E uma esposa norueguesa. A jornalista sofre de depressão e o assalto em sua casa, poucos dias antes, potencializara todos os seus medos, que só piorariam quando ela vê um corpo sendo jogado ao mar.

Mas, antes disso, Lo acabara de desembarcar no suprassumo do luxo. Tudo ali era perfeito, ostentoso e caro. Cada suíte tinha um funcionário a seu dispor 24 horas. Quem estaria a cargo de Lo era Karla, que aparentava ser norueguesa, mas falava um inglês impecável. Tudo era para as pessoas mais ricas do mundo e Lo não sabia onde enfiar a cara, já que era ali uma mera jornalista.

Agora, voltando para sua suíte, ela está se arrumando para um jantar luxuoso, quando nota que deixou o rímel em casa. Então ela vai até a suíte ao lado ver se alguém, caso tivesse alguém lá, emprestava. Depois de muito bater, uma jovem usando camisa do Pink Floyd a atende e, com alguma má vontade, lhe entrega a maquiagem. Minutos depois, Lo vê um corpo sendo jogado ao mar e bastante sangue na varanda.

Porém, quando ela vai chamar Nilsson, que é uma espécie de chefe dos empregados, e lhe conta toda a história, ela descobre que ninguém jamais esteve na cabine 10, que a mesma foi alugada e o empresário cancelou o pedido de última hora. O fato de ter bebido não ajudou Lo, Nilsson achava que ela poderia ter misturado o álcool com seus fortes remédios. Para variar, quem também estava no navio era Ben, seu ex-namorado. O relacionamento não foi dos melhores, que acabou de maneira conturbada, mas, por incrível que apreça, a presença de Ben ali a aliviou um pouco. Era como se ela tivesse em quem confiar.

Mas ela sabia o que tinha visto era real. E ela não estava enganada. E alguém não queria que Lo investigasse o que ela tinha visto. Além do lorde Bullman, estavam no navio sua esposa, Anne, que estava em tratamento de câncer, o fotógrafo Archer, jornalistas e alguns empresários, como Cole, Alexander, só para citar alguns – não vou dar mais nomes porque são muitos e admito que não me lembraria de todos eles. E quanto mais Lo procurava, mais complicado ficava para ela. Só que ela não ia desistir de saber o que foi feito da mulher da cabine 10.

Com um faro investigativo tão bom quanto de Agatha Christie (não disse que é melhor, mas que é igualmente bom), Ruth Ware nos deleita com uma obra que te fará sentir como se estivesse no navio, tendo as mesmas sensações que Lo, mesmo que você nunca tenha tido uma crise de pânico na sua vida.
Com uma narrativa que me lembrou Assassinato no Expresso do Oriente, em que Lo Blacklock (gostei do sobrenome) encarna uma investigadora que precisa saber o que aconteceu com uma certa mulher, que sumiu no meio de tantas pessoas importantes e influentes. Ela se sente fracassada, por causa de sua depressão, ansiedade e crises de pânico, que pioraram após o assalto em seu apartamento e o término de namoro com Judah – um jornalista de guerra.

No navio, Lo terá que superar seus medos da pior forma, enfrentando um potencial assassino à solta, que se esconde atrás de sessões de massagens e taças de champanhe. Eu descobri o final assim que o plot foi revelado – é meio óbvio, mas só dá para saber quando o plot é revelado. E por incrível que pareça, isso me deu mais vontade de saber o que ia acontecer com a protagonista.

Aliás, uma coisa muito interessante sobre ela: caiu na armadilha do comodismo. Lo, assim como eu e muita gente que estudou jornalismo, ela fez o curso para querer salvar o mundo e fazer diferente e tudo o mais, mas acabou num emprego numa revista de viagens, em que ela sonhava chegar ao cargo de sua chefe. Não gostava de lá, mas também nunca se esforçou para sair e colocar a cara no mundo, como, por exemplo, Ben, o ex-namorado, que se arriscava sem medo em busca de melhores oportunidades. Confesso que me identifiquei com ela nesse ponto.

Com um final de se surpreender, A Mulher na Cabine 10 é um livro que te deixa aflita em praticamente todos os momentos, pois entramos na mente de Lo e sabemos que ela não está reagindo da melhor forma, mesmo fazendo um excelente trabalho – de investigação, não para a revista. A escrita fluente e sincera de Ruth, apesar de alguns rodeios que ela faz pra contar o luxo e glamour do navio, faz com que você embarque no Aurora Borealis junto com Lo para descobrir como a história vai acabar.

A edição da Rocco está muito boa, apesar de ter encontrado uns errinhos de digitação. Adorei a capa, mesmo eu tendo levado algum tempo para entender que a foto é uma janela de cabine de navio. Gostei bastante da história e espero que a editora traga mais obras de Ruth para o Brasil.

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Olá!

O livro é recente, mas dada sua importância e relevância, faz-se necessário ler e compreender sua mensagem. Portanto passei a virada do ano ao lado de Margaret Atwood e sua masterpiece (acho), O Conto da Aia.
SKOOB - O Conto da Aia conta a história de uma república no século XXI, mas bem à frente do nosso tempo e quem a narra é a Offred. Ela é uma aia, cuja única função é engravidar. Houve uma revolução e o que eram os Estados Unidos agora são repúblicas independentes. Offred mora na república de Gilead. A revolução foi teocrática então tudo é feito de acordo com os preceitos bíblicos. Offred foi arrancada da sua vida e tudo que tinha antes lhe foi tomado e agora sua função é só gerar filhos. Para os outros.

Houve muitas guerras nucleares ao longo do século, resultando na morte de muita gente, então quando os religiosos tomaram o poder (seja eles de qual religião for) as aias foram a solução encontrada para poder retomar o controle de natalidade ao considerado normal, porque além de muitos soldados terem morrido, muitas mulheres ficaram estéreis por causa dos efeitos das bombas nucleares. Elas pariam desde bebês saudáveis a coisas bizarras.

Então as mulheres - do ponto de vista bíblico - impuras, como as lésbicas, as adúlteras, as que vivem na condição de amantes, etc., são candidatas a se converter a aias, desde que sejam férteis. As que não eram iam para as colônias e, no prazo de três anos, acabavam morrendo por causa da forte exposição à radiação já que ficavam lá trabalhando forçadamente.

Já as mulheres da elite são as Esposas, as empregadas são as Marthas e as pobres são Econoesposas. As Tias são responsáveis por doutrinar as Aias. Sendo assim, os Comandantes é quem mandam – apesar de não sabermos o que eles comandam. Como em toda ditadura, todos temem ser traídos, e com Offred não é diferente. Por ser mulher, seus castigos são piores. Ela tem bastante tempo livre, já que, como sabemos, sua única função é engravidar. Então aproveita pra nos contar como é a vida em Gilead.

Diferente das distopias que estamos acostumados, Offred ficará passiva durante toda a trama, apenas relatando seus pensamentos e atos. Seu nome verdadeiro não é revelado e podemos ver como era sua vida antes da revolução. Aliás, ela perde tudo: sua conta bancária, sua família (marido e filha) e até mesmo seu nome. Offred significa que ela pertence a alguém chamado Fred: Of ("de", portanto Do Fred).
O mais surpreendente dessa obra é que é muito atual. Foi escrita em 1985 e de lá pra cá nada mudou. É verdade que não vivemos numa ditadura, mas o fundamentalismo está mais forte, assim como o conservadorismo e outros pensamentos retrógrados que estão voltando à baila. Porém, o que talvez explique o sucesso da obra – a ponto de virar série de TV – é que todos esses assuntos – além dos consagrados machismo, sexismo e relação Estado-Igreja – estão sendo discutidos. As mesas de bar deram lugar às redes sociais, e todo mundo tem acesso a isso.

A narração é em primeira pessoa, e graças as descrições de Atwood, podemos ver com clareza os mecanismos de Gilead para manter tudo em ordem, através de seus Olhos (os soldados que prendem os que agem “fora da lei”) e seus Anjos (os que vão para a guerra). Aliás, acerca do texto, tem muitas vírgulas, um festival delas. Por um lado, isso me incomodou, cheguei a achar que fosse erro de tradução, mas por outro, penso que elas estão ali para causar algumas sensações no leitor, deixá-lo no suspense ou fazê-lo refletir.

Postei essa imagem no Twitter (minha conta pessoal, mas podem seguir, rs) pra dizer que os versículos eram um negócio bizarro, nem tinha certeza de que o livro bíblico citado estava escrito errado. Ainda assim a editora me respondeu, agradecendo por ter postado. O que mostra que assim como há bocas de porco, há editoras sérias.

No mais, apesar do final meio que aberto, não vejo outro modo de encerrar a história. Tudo faz sentido e precisamos de mais livros assim, que nos faça refletir. E mais importante, que sejam escritos por mulheres, para que nos representem e nos deem voz. E a Rocco me disse, um tweet depois desse que está acima, que em 2018 teremos mais três lançamentos de Atwood! Já quero (e com esse projeto gráfico, rs).
"Nolite te bastardes carborundorum."
"Mas lembre-se que o perdão também é um poder. Suplicar por ele é um poder, e recusá-lo ou concedê-lo é um poder, talvez de todos o maior."
"Um rato em um labirinto está livre para ir a qualquer lugar, desde que permaneça dentro do labirinto."

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Olá!

Aos trancos e barrancos, vamos cumprindo os tópicos do Desafio 12 Meses Literários e, dessa vez, por incrível que pareça, matei dois coelhos com uma paulada só, pobrezinhos. Além de eu ter lido uma autora nascida neste mês, ainda encerrei mais uma trilogia. Vem conferir o último volume da trilogia Rainha da Fofoca.

SKOOB - A Rainha da Fofoca – Fisgada é o último volume da trilogia criada por Meg Cabot e, começando exatamente de onde acaba o anterior, Lizzie finalmente vai se casar! Mas com Luke, o príncipe. Pra quem não lembra, Luke é o homem perfeito para Lizzie (segundo a própria), pois se preocupa e a ama. E até lhe deu um anel de noivado da Cartier.

E não é só isso: por causa de um acidente com seu patrão, Monsieur Henri, ela terá que cuidar do ateliê de restauração de vestido de noiva dele. O que significa que ela terá que cuidar de absolutamente tudo. E sua carreira como restauradora de vestidos de noiva alavancou de modo impressionante: seu nome saiu nas colunas sociais, depois do ocorrido (o clímax do livro anterior), logo, as ricas e famosas vão querer ser clientes dela, até mesmo uma certa Ava Gerk, popular (e infelizmente) conhecida por ser uma “vagabunda viciada em crack”

Mas nem tudo são flores com a maior boca aberta que conhecemos: ela sofre um grande baque em sua vida, enquanto não sabe se realmente ama Luke. Porque ela está dividida entre seu noivo e Chaz, melhor amigo dele. E fica se anulando em detrimento de uma relação que nem ela mesma sabe no que resultará, que dirá nós leitores.

Nascida em primeiro de fevereiro de 1967, portanto atendendo ao segundo tópico do Desafio 12 Meses Literários, Meg Cabot encerrou uma trilogia que me fez rir, mas também ligou um alerta em mim. Tipo, as coisas que Lizzie dizia (para si e para os outros) para manter o relacionamento, quantas mentiras ela disse pra se iludir, porque o que importava para ela é que ia se casar com um príncipe. Você vai lendo e se perguntando: por que ela está tão desesperada para se casar? Quantas histórias (não necessariamente ficcionais) vemos de mulheres que se anulam de detrimento de um embuste?
Aliás, depois de um começo de ano em que li míseros quatro livros, finalmente estou recuperando meu ritmo de leitura. Não lembro mais quando comprei os livros da trilogia, mas demorei um bocado pra finalizar. E não me arrependo, pois foi uma leitura super gostosa e com muitas curiosidades interessantes sobre casamentos. Cada capítulo começa com uma dica de Lizzie para o casamento da leitora e uma epígrafe. Realmente algo bem original.

Inclusive, as dicas vão de como controlar sua cunhada a saber quais músicas devem tocar durante a festa. E sobre isso, saibam que, para que todos dancem na sua festa, tem que tocar desde "Dancing Queen" (ABBA) a "YMCA" (Village People), passando pelo hino máximo e supremo "It's Raining Men" (The Weather Girls). Vocês não podem dormir sem saber disso.

Pra quem está na ressaca literária, recomendo todos os livros da série. É aliás, fiquei chocada porque li as 445 páginas em um dia. UM ÚNICO DIA. Sim, é surpreendente. Talvez só a Ana, do Entre Chocolates e Músicas, que é a maior fã dela, deva conseguir essa proeza. É uma pena que muita gente torça o nariz pros chick kits (abomino quem usa o termo “literatura de mulherzinha”), pra considerar um gênero inferior. Pode ler sim, viu, amiguinho. Poucas coisas são tão boas quanto uma boa leitura. Agora estou com saudades de todos os personagens.

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Olá!

Através da Ani, que tem parceria com a Arqueiro, ela me cedeu um exemplar de A Pérola que Rompeu a Concha, livro de estreia da afegã-americana Nadia Hashimi. Resenha originalmente postada no EC&M.
SKOOB - A Pérola que Rompeu a Concha na verdade são duas histórias em uma. A primeira é da Rahima. Ela mora numa aldeia no Interior do Afeganistão com seus pais e quatro irmãs. E nenhum irmão. E todos sabemos que na cultura afegã (no islã como um todo) o nascimento de um menino é muito comemorado, enquanto o da menina não. Então apenas imaginem como devia ser a vida de Madar-jan (a mãe) e suas filhas.

Até que, um certo dia, por questões do momento, Rahima escolhe ser uma bacha posh, ou seja, passaria a se vestir como um menino. Como tinha pouco mais de nove anos, estava dentro da idade. O pai de Rahima era um viciado em ópio e agia como um afegão comum (aquele que estamos acostumados a ver): maltratava toda a família. Como um bacha posh, Rahima podia sair às ruas sozinha e fazer alguns mandados para a mãe.

Como ela – enquanto menina – e as irmãs estavam proibidas de ir à escola, todas se juntavam para ouvir as histórias de Khala Shaima, tia delas, irmã de sua mãe e com um grave defeito em sua coluna, o que fez com que ela jamais conseguisse se casar. E Khala Shaima tinha uma incrível história para contar, a de Shekiba, a trisavó de Rahima.

Na segunda história, há muitos anos, Shekiba vivia numa aldeia no interior do país. Ela tinha vários irmãos e irmãs e era muito amada pela toda a família. Até que sofreu um acidente e ficou com cicatrizes em metade de seu rosto. A partir daí sua vida virou um inferno, piorado com a epidemia de cólera que assolou o país nos anos 1910 e matou praticamente toda a família, sobrando ela e o pai, que morreria depois, de tristeza.
Com a morte do pai, ela passou a viver na casa da avó paterna – lembrando que, quando uma afegã se casa ou perde a família, ela sempre vai viver na família paterna – onde trabalhava muito e sofria mais ainda. Até que, como parte de pagamento de uma dívida do tio, ela foi parar no reino, para ser guarda do harém do rei. O que não seria uma tarefa difícil, tendo em vista que precisaria se vestir como um homem.

Apesar das cinco gerações que as separavam, Rahima e Shekiba tinham muito em comum, muito mais que poderiam imaginar. E saber da existência dessa trisavó deu uma nova esperança para Rahima, ainda mais depois que se casou de modo arranjado, tendo a mesma carga – ou mais – de sofrimentos.

Bem, primeiro que não consigo enxergar os povos muçulmanos com bons olhos – tenho respeito, mas quero distância deles, cada um no seu quadrado – então, por causa do meu preconceito, sempre evito obras que abordem muçulmanos. Não tem como não se indignar com as arbitrariedades que fazem com as mulheres, e o que é pior, usam deus como plano de fundo – nada dele, tudo para e por ele.

Sim, eu li O Caçador de Pipas (final decepcionante) e A Cidade do Sol (tenho medo do Rashid até hoje) mas essas obras em nada chegam perto da preciosidade da obra de Nádia. O jeito ir ela escreve e a história que ela conta são de uma riqueza única, me fazendo imaginar como era o país antes da corrupção, Talibã e outras coisas envenenarem o povo. Apesar da autora ter nascido nos EUA, nem parece que é ocidental, tamanha a precisão com que narra os acontecimentos. Consigo me ver nas ruas da aldeia, sofrendo com cada uma delas.

Entre os personagens, de longe me simpatizei com Khala Shaima. A tia desbocada e sincera, que defendia as meninas, sem ter medo de ninguém. Há também a parlamentar Zamarud, que ganhou meu respeito apenas por ser uma mulher no Parlamento – acham pouco? Nossas protagonistas não ficam atrás. Cada uma com suas dores, em seu tempo, mas com problemas tão comuns e reais e visíveis, alguns deles identificáveis por nós ocidentais, outros que nos são inconcebíveis, como os casamentos arranjados e burcas e hijabs e xadors. Várias vezes quis entrar no livro e socar todos os homens, por serem uns malditos. Nossas protagonistas foram tratadas como objeto, moeda de troca e escravas, como tolerar coisas assim?
Algumas coisas não fazem sentido para mim quando ouço falar no islã. Tipo, como os homens de lá podem ser considerados bons quando só vejo aqueles que agridem suas esposas e tá tudo certo, isso sem falar nos que possuem mais de uma esposa. Como é que Alá, Deus ou quem quer que seja permite isso? Quando penso em muçulmanos, vejo Talibã e muitos como o já citado Rashid (de A Cidade do Sol) e agora Abdul Khaliq, marido de Rahima. Segundo a própria autora, antes das guerras, as mulheres estudavam, viajavam e faziam muitas coisas, assim como nós ocidentais, depois disso, nem sair de casa podiam. Me é simplesmente inconcebível. Diversas vezes me peguei pensando em como a mulher vale menos que o lixo e ainda assim continua lutando. Mas, me parece que quanto mais lutam, mais difícil e cansativo fica. Às vezes gostaria de que não existissem religiões no mundo.

Foi uma leitura edificante, aprendi muito sobre desde a cultura local e termos em árabe a luta diária das mulheres em sobreviver numa sociedade muito mais machista que a nossa, é o que é pior, num estado que não é laico. O que diferencia o Brasil do Afeganistão é que, pelo menos, oficialmente, ainda podemos professar nossa fé, seja ela qual for, sem o Estado para encher o saco. Eles são uma República Islâmica – eu que não quero levar meu catolicismo pra lá.

No mais, é um livro lindo que nos faz refletir sobre muitas coisas que não damos valor – e a educação é uma delas. Meninas dão a vida – literalmente – para poder frequentar a escola. A história da Malala é um ótimo exemplo para entendermos o poder da educação e como ela transforma aqueles que são ignorantes (no sentido de que não conhecem as coisas).

"Não tente parar um burro que não lhe pertence."

"- Rahima, você sabe quanto eu amo a Alá. Sabe que me curvo diante d'Ele cinco vezes ao dia, com todo o meu coração. Mas quero que me diga qual dessas pessoas que dizem coisas assim falou com Alá para saber qual é o verdadeiro nasib."

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Olá!

Participando do Desafio 12 Meses Literários de 2018, o escolhido do mês é um livro nacional. E como gosto de romances policiais e devia uma resenha à Oasys Cultural, de quem recebi esse exemplar, 2.990 Graus foi uma boa leitura.
SKOOB - 2.990 graus conta a história do delegado Hermano, conhecido na delegacia pela alcunha de Poeta, obviamente, por gostar de poesia. Ele é jovem e inexperiente, mas se orgulha de jamais ter usado sua arma. Apesar da falta de experiência, ele recebe a incumbência de investigar o assassinato de um deputado. Um crime cometido com requintes de crueldade. 

O deputado foi morto tendo um maçarico enfiado em seu ânus, queimando tudo por dentro. Literalmente, seus órgãos viraram churrasco. Foi morto, mas não sem antes ser torturado. Por ser um político morto, é claro que a população ficaria do lado... De quem o matou. Mas, antes mesmo das investigações começarem, outro morto: também deputado, morto do mesmo modo.

Hermano e sua equipe, formada por Jaqueline (que também é sua amante), Tomás, Fábio, Percival e o delegado chefe Belchior, vão investigando até darem de cara com um certo pastor. Esse pastor tem uma longa ficha criminal, mas encontrou Jesus e agora ministra na igreja da Chama Divina – um nome bem sugestivo, não?
Além das investigações, a vida pessoal do protagonista não é das melhores: Alice, sua namorada, faz aulas de pintura. Com o ex-namorado. Ele até gosta de vê-la fazendo as aulas, mas sente uma pontada de ciúme, claro.

Cada vez mais políticos vão ser assassinados, e com eles, longas fichas criminais. Todos eles desviaram dinheiro de obras públicas para enriquecimento próprio, é claro. Um deles desviou dinheiro da tragédia de Petrópolis, em 2011, para colocar em outra ação pública. Pior do que isso foi que a população começou a apoiar quem matava os políticos, ganhando a alcunha de “Vingadores do Povo”. 

O que mais me surpreendeu – positivamente – na obra foi a proximidade dos fatos com a realidade. Apesar da história se passar no Rio de Janeiro, os políticos ladrões estão em todo o país. Corrupção, crimes, redes sociais fervilhando de ódio... Tudo isso está no livro, o que faz com que a história de Hermano torne-se tão palpável. Não precisamos ir até os Estados Unidos ou a Suécia, temos nossos próprios crimes e nossos próprios policiais. Só depende de nós definir em qual lado está.

Mas admito que não gostei tanto do Hermano. É um excelente policial, apesar de sua falta de experiência. É inteligente, gosta de ler e tem um bom raciocínio, mas não é o tipo de personagem que você torce por ele. Achei ele um tanto hipócrita, por ele ter uma amante e sentir ciúme da namorada porque ela tem aulas com o ex – que a traiu enquanto namoravam. Nesse ponto, não deu pra concordar com ele.

O autor tem longa carreira na TV, principalmente como roteirista. É o primeiro livro dele que leio e gostei bastante, ainda mais por ser tão atual e retratar a situação do nosso país. Espero que ele continue na jornada literária, lançando mais romances policiais, não necessariamente com o Hermano como protagonista.

"– Eu também, delegado. Felizes os que têm muitas vaidades. A maior riqueza é ter do que se envaidecer."

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Postagem participante do:

Olá!

Depois de muito relutar, finalmente terminei a trilogia da Sophie Jackson e não podia esperar outra coisa de Amor sem Medidas. Um livrão desses, bicho.

Resenhas Anteriores: Desejo Proibido | Eternamente Você (conto) | Paixão Libertadora

SKOOB - Amor sem Medidas é o último livro da trilogia de Sophie Jackson e vai contar a história de Riley Moore, que trabalha na oficina mecânica onde é sócio de Max (do livro anterior) e trabalha duro para se manter na honestidade, após passar uns meses na cadeia. Ele mora em Nova York e suas horas vagas são preenchidas com bebidas e sexo. Muito sexo.

Sua vida está nos trilhos, até que recebeu uma ligação de sua mãe, dizendo que o pai tinha sofrido um infarto. Apesar de sua relação com o pai não ser das melhores, ele pega o avião (emprestado por Carter, do primeiro livro) e volta para Traverse City, no estado americano do Michigan. A cidade lhe traz muitas lembranças, todas relacionadas a Lexie Pierce.

Lexie foi sua primeira amiga e seu primeiro amor. Eles se conheciam desde os oito anos, mas por causa de diversas brigas e muita imaturidade, acabaram por se separar. Mas parte de Riley queria muito revê-la, pois ainda não a havia esquecido. Quando os dois se encontraram pela primeira vez, eles meio que pisaram em ovos, pois as mágoas e os bons momentos do passado estavam colidindo em sua mente. Mas, ao ver um certo garotinho, seu mundo vira de ponta cabeça. Ele tinha um filho. Lexie escondeu isso dele e o deixou maluco.

Muitas coisas ainda eram confusas para Riley, como sua relação com seu pai, mas essa novidade tomaria todos os seus pensamentos. O garoto se chamava Noah e era um poço de fofura, com seus quatro anos e sua inteligência afiada. Além disso, Riley estava confuso em relação a Lexie: deveria confiar nela?

Eu já estava com saudades desse universo maravilhoso criado pela Sophie. Enquanto fiquei muito feliz quando a Arqueiro divulgou o lançamento. Esperei a Black Friday e... Devorei esse livro no dia de Natal. Sério, não tem como não amar Riley Moore. Ele é uma pessoa do bem, apesar de ter passado uma temporada na cadeia. Pensa sempre no bem de todos e se dá super bem com sua mãe e seus três irmãos (todos homens).
A escrita dela é super gostosa e, por ter conteúdo erótico, algumas pessoas podem se incomodar com isso – eu não, pelo contrário, queria ter um Riley pra mim. É muito interessante ver como o amor de Riley por Lexie vem desde a infância, me faz acreditar que, às vezes, duas pessoas nascem destinadas uma a outra e nada pode destruir isso. O tempo vai passando, os amigos viram namorados e... a imaturidade destrói tudo.

Uma série de fatores fez com que Lexie escondesse a gravidez. Mas o estopim de tudo foi a morte do pai dela, que a fez mergulhar numa forte depressão. A depressão, aliás, foi abordada meio que por cima, não é o foco do livro, mas podemos notar o que essa doença silenciosa faz com uma pessoa. Logo, a autora mostra que a depressão afeta não só a pessoa que a tem, mas todas as pessoas a seu redor.

A relação de Lex com sua família (mãe, irmã e filho) é maravilhosa, eles a reergueram da depressão e fizeram com que ela se esforçasse em melhorar e até abrir uma loja, a joalheria "Com Amor, Você", que tem um sistema de descontos bem interessante: se a cliente (sempre mulher, pelo que entendi) estava em dúvida entre dois produtos (um anel e uma pulseira, por exemplo), Lex encaminhava a pessoa até um espelho e lhe entregava um papel em branco, onde a mulher escreveria uma dedicatória a si mesma. No canto do papel, apenas uma assinatura: “com amor, você”. Se a cliente fosse sincera na mensagem escrita, ganhava 20% de desconto em um dos produtos. Uma boa forma de se autovalorizar e ainda por cima ganhar um desconto.

Então, se você procura uma trilogia já publicada contendo uma linda história, personagens incríveis, crushes literários (tem para todos os gostos, Carter segue sendo meu favorito) e boas doses de humor e sexo, a trilogia Desejo Proibido é para você. Vou sentir falta de todos os personagens, confesso.

Garanta aqui seu exemplar de Amor Sem Medidas.

Olá!

Adoro personagens originais e, quando a Ani, do EC&M, me disse que eu poderia pedir um livro referente à parceria dela com a Rocco, me encantei de cara com a sinopse. Por que será que Eleanor Oliphant insiste em dizer que está tudo bem? Resenha originalmente postada no Entre Chocolates e Músicas.

Ah, o blog encerra seus trabalhos de 2017 hoje, voltando apenas em oito de janeiro. Desde já, desejo uma excelente passagem de ano.
SKOOB - Eleanor Oliphant é diferente de tudo que alguém já tenha visto na literatura. Ela tem 30 anos, mora em Glasgow (Escócia), trabalha em um escritório e sempre diz que está tudo bem. Não sente falta de amigos, pois não dá pra sentir falta do que nunca teve. Com respostas para tudo na ponta da língua, ela vai se surpreender quando encontrar o amor de sua vida. Na verdade, ela bate o olho em um certo cantor e decide que ele é sua cara metade.

Porém, ela não contava que, junto com Raymond Gibbons, o novo funcionário da TI, socorreria um idoso que enfartou no meio da rua. Para Eleanor, esse contato é demais, ela está acostumada a estar sozinha. Sua única conversa é com sua mãe, que está presa, sempre às quartas. Conversas essas que nunca acabavam bem. Em seu local de trabalho, era motivo de chacota, seja por suas roupas, seja por suas ações.

Eleanor, então, decide criar todo um projeto cujo objetivo era se aproximar do cantor. Passou a segui-lo nas redes sociais e até encontrou o endereço de sua casa. Mas também se dividia entre seu trabalho e visitar Sammy, o idoso enfartado. Sua vida sempre foi um livro aberto: desde que ganhou a cicatriz no rosto, ela viveu em lares adotivos e orfanatos. Aos 17, foi para a universidade, e aos 21 entrou na empresa na qual trabalha até hoje. Não há lugar para necessidades emocionais.

Quando ela se vê envolvida com Sammy e a sra. Gibbons, mãe de Raymond, Eleanor nota que há algo mais que suas obrigações enquanto funcionária. Havia vida, havia algo que era inalcançável para ela, uma coisa que ela merecia ter, mas se recusava a tentar, pois não se sentia merecedora de nada.

Sua infância foi triste, cheia de dor, medo e tristeza. Ela era só uma criança, mas ficou tão traumatizada que procurava respostas em todos os lugares, mesmo apregoando que estava bem. Mas é claro que nada estava bem. Ter perto de si pessoas como Sammy e Raymond era algo novo, pessoas que se importavam com ela e a agradeciam apenas por estar ali. Era como se ela simplesmente não aceitasse que isso de ter amigos era uma coisa bacana.
Conhecer Gail Honeyman e sua Eleanor Oliphant me foi uma grata surpresa. O livro aborda um tema que, infelizmente, ainda hoje é um tabu pra muita gente: a depressão. É uma doença silenciosa e que nos destrói pouco a pouco. No caso de nossa protagonista então, foi uma experiência cruel: depois de uma infância traumática, quis procurar no cantor aquilo que ninguém nunca lhe deu, depois do agravante de ter se envolvido com um namorado que lhe agredia sistematicamente. E essa busca incessante só fez mal a ela.

Com uma escrita envolvente e um tanto engraçada, Gail mostra como é importante estarmos cerca de quem nos quer bem e também eliminar o que nos é nocivo. E que não há nada de errado em pedir ajuda. Mesmo com algumas ações que achei um pouco idiotas por parte de Eleanor (como assim você não quer levar a bandeja depois de comer no McDonalds?), é uma pessoa maravilhosa, que te faz rir e, quando você descobre o que aconteceu com ela, sua vontade é de entrar no livro e lhe dar um grande abraço – mesmo que ela não saiba como reagir numa situação dessas.

A principio, os fósforos queimados na capa do livro não querem dizer muita coisa, mas quanto mais entramos no passado de Eleanor, mais entendemos a mensagem que a capa nos transmite. Ela é sistemática até para tomar vodca, mas isso também é um indicativo de que algo está errado. Rotina de mais faz mal e álcool não é válvula de escape para nada.

Agradeço, como sempre, à Ana, que conseguiu pra mim um exemplar desse livro lindo, que com muito bom humor e sinceridade, nos mostra como é importante ter alguém para chamar de amigo e que depressão é doença sim – e que não há nada de errado em procurar ajuda médica. A história se passa em Glasgow e gosto quando os livros saem da rota EUA-Londres-Paris. Eleanor Oliphant Está Muito Bem é o livro que todo mundo precisa ler, pois todo mundo terá algo para se identificar com ela.

p.s.: a mãe da Eleanor é uma escrota.

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Olá!

Depois de ler a sequência da série Millennium (!), era hora de entender de onde veio o talento de David Lagercrantz para a literatura policial e porque os herdeiros de Stieg Larsson o escolheram para continuar a única série possível. A Cia. das Letras não perdeu tempo e publicou um dos primeiros livros do autor.
SKOOB - A Morte e a Vida de Alan Turing vai começar relatando a morte (o suposto suicídio) do famoso matemático inglês, cuja participação foi essencial na vitória da Inglaterra sobre a Alemanha nazista, nos anos 50. Ele morava em Wilimslow, próximo de Manchester, Inglaterra. E no dia seguinte à morte de Turing, o detetive Leonard Corell é designado a ir até a casa da vítima para buscar informações do caso. 

Alan era homossexual e, na época, era muito mal visto. Mesmo sendo genial em seu trabalho, o fato de ser gay o fazia ser mal visto perante a sociedade – inclusive era crime naquele tempo. Quando o detetive vê o que Turing deixou – uma maçã banhada em veneno – ele colocou em xeque a versão oficial – a de suicídio. Aliás, junto da maçã, alguns objetos que, à primeira vista, não diziam muita coisa.

Leonard Corell era um sujeito singular. Cheio de monstros perturbando sua mente, teve uma infância complicada, sendo obrigado a estudar numa escola que não queria e ter que suportar uma mãe que ficou distante após a ausência do pai. Acha seu trabalho de policial algo indigno dele e de seu sobrenome, se achando superior a tudo e todos, mas ao mesmo tempo sofrendo com uma tremenda timidez, que o faz agir de maneira impulsiva às vezes. As coisas que Leonard encontra na cena da morte fazem com que ele repense sua vida, seus conceitos, até mesmo sua auto-estima. E acaba por iniciar uma investigação profunda sobre o caso, fazendo-o mergulhar na morte e na vida de um dos mais importantes matemáticos de nosso tempo. 

Foi uma boa leitura, pude conhecer melhor a escrita de David, aliás, pude conhecer a escrita dele em algo original. Deu pra entender melhor de onde ele tirou tantos conhecimentos matemáticos e físicos para escrever a sequência da série Millennium. Cheio de detalhes, o livro permeia não só a vida de Turing, mas também a sociedade daquela época, preconceituosa e preocupada com o avanço do nazismo no pais. 
A máquina de Turing – precursora dos computadores que conhecemos hoje – foi um aparelho vital para a vitória dos britânicos. Com muitos fios e conexões, foi possível decodificar as mensagens dos alemães, é assim salvar muitas vidas. O livro também conta como ele era um sujeito tão singular quanto Corell. Sabia de seus “defeitos”, mas não fazia nada para “melhorar”. Pelo contrário, vivia um dia de cada vez, sempre pensando logicamente. Para ele, tudo era lógico, literal. Ou era ou não era, e isso foi seu diferencial – e sua perdição. 

O legal deste livro foi a forma como o autor transitou entre o real e o imaginário. Sendo o protagonista alguém tão importante, claro que a história deve ser contada com o máximo de precisão, sem nem mentir nas informações verídicas nem fantasiar demais a ponto de virar algo irreal. E é nisso que David acerta, ao inserir pitadas de ficção numa trama real – ou seria o contrário? 

Logicamente que estava com altas expectativas em relação a esta leitura, claro, o autor foi escolhido só para dar sequência à minha série favorita. E muito do que vi nos livros que ele escreveu (os da série), tem como base – nem que seja base física e matemática – este livro e todas as pesquisas que foram necessárias para a construção dessa trama. A única coisa negativa é que, dado meu baixo – pífio – conhecimento em matemática e física, infelizmente não pude visualizar todas as estratégias e processos com perfeição, mas pude ver as partes mais humanas, onde tanto Corell quanto Turing mostram quem realmente são.

P.S.: ainda não me esqueci que David deve uma visita aos leitores brasileiros, rs.

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Olá!

Cumprindo o último tópico do Desafio 12 Meses Literários, cujos tópicos estão na imagem disponível na sidebar, eu deveria ler uma adaptação literária. Não costumo ler os livros depois de ter visto os filmes, salvo raras exceções. E no fim do ano passado, comprei Spotlight, mas, por ocasião do meu TCC, posterguei a leitura. Até hoje.
SKOOB - Spotlight - Segredos Revelados é mais que um livro, é um documentário que mostra o quão passiva e acobertadora foi a Igreja Católica ao longo dos anos, quando optou por esconder os muitos padres abusadores sexuais de menores. Isso mesmo, a Igreja escondeu por décadas muitos sacerdotes que, com a certeza da impunidade e, usando roupas e hábitos religiosos, violentaram muitas crianças, meninos, em sua imensa maioria.

A história teve sua origem na Arquidiocese de Boston, região em que se concentra o maior número de católicos dos EUA - mais de três milhões, números de 2015, data desta edição, atualizada em virtude do filme, lançado no ano seguinte e vencedor de dois Oscar, nas categorias "Melhor Filme" e "Melhor Roteiro Original". Em suma, cada vez que uma denúncia de um padre abusador surgia, ele apenas era mudado de diocese - saía de uma igreja para outra. Em alguns casos, eram internados em clínicas e, com o aval de médicos, voltavam ao trabalho episcopal, supostamente "curados".

Não vou me ater aos detalhes de quando começou tampouco citar nomes, porque são tantos nomes que o leitor só não se perde porque alguns se destacam mais que outros - estes são verdadeiros predadores sexuais - mas sim contar como o trabalho dos jornalistas e editores do Boston Globe (o periódico responsável por trazer à luz essa atrocidade) em juntar muitos detalhes de um grande quebra-cabeça, contendo muitas entrevistas, documentos e, claro, provas confidenciais.

Inclusive, podemos ver como o papel do Vaticano foi crucial nisso, ao passar pano nos cardeais que passavam pano para os pedófilos. E como a religião, quando misturada aos órgãos estatais, pode resultar num desastre, já que, houve um certo choque de interesses por parte de algumas autoridades policiais na hora de tomar as medidas cabíveis contra os acusados - quem ousaria dar voz de prisão a um sacerdote? Inclusive, o Papa João Paulo II, a quem eu estimava, dada sua importância, me decepcionou quando decidiu cuidar dos seus, em detrimento do sofrimento das vítimas.
O Cardeal Law teve um papel crucial no acobertamento, tendo em vista que ele era um dos cabeças da Igreja Católica nos EUA. De Boston, garantiu uma cadeira direto no Vaticano.
Aliás, o livro nos mostra o que acontece quando a vítima é abusada por alguém que sua família tem em alta conta (aqui, no caso, é um padre, mas pode ser um tio, um amigo, ou até mesmo o próprio pai, por exemplo). Muitos se aproveitavam do fato de que as crianças vinham de famílias disfuncionais e/ou pobres e, após conquistas a confiança dos pais, atacavam. Como os abusos datam dos anos 50, para nós pode parecer estranho, mas naquele tempo era super normal um padre levar as crianças para tomar sorvete ou nadar em piscinas públicas.

Para os jornalistas de hoje, o escândalo da Arquidiocese de Boston (o livro tem esse nome devido à equipe responsável pelas investigações, chamada de Spotlight) é o novo Watergate. Logo, para os estudantes de jornalismo, faz-se essencial a leitura do mesmo (ou pelo menos ver o filme) para que se compreenda o papel do profissional e da imprensa numa sociedade que vive sob um regime democrático. Sem a insistência deles (e a coragem das vítimas em se abrir) nunca saberíamos desse caso e, naturalmente, até hoje os sacerdotes desta e de outras cidades estariam cometendo seus crimes.

Termino dizendo que, infelizmente, ainda falta muito para que todos os religiosos paguem por seus crimes (se é que algum dia vão pagar, já que muitos até morreram) e também falta muito para que o Estado se dissocie por inteiro da Igreja, pelo menos no lado de cá do globo. Porém, o livro ressalta a importância da população leiga (os católicos que frequentam a igreja) em querer que a Igreja mude, principalmente nos pontos delicados, como a ordenação de mulheres e gays e o fim do celibato. Sabemos que é um trabalho difícil, mas se tivermos do lado certo, toda luta é válida.

Pela primeira vez participo de um desafio literário e fiquei feliz com o resultado, pois cumpri onze dos desafios propostos. Que venha o próximo ano com mais desafios!

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Postagem participante do:











Olá!

A Ana, do EC&M, através de parceria com a Arqueiro, conseguiu para mim um exemplar de Entre Irmãs, um livro maravilhoso que recentemente virou filme. Uma história de ficção, mas que poderia ser real, dadas as circunstâncias. Resenha originalmente postada no Entre Chocolates e Músicas.
SKOOB - Entre Irmãs vai contar a história das irmãs Luzia e Emília, que vivem na pequena Taquaritinga do Norte, no sertão pernambucano. Elas vivem com a tia Sofia e são costureiras de mão cheia. Emília sonha em se casar e ter uma família; já Luzia, por causa do braço defeituoso, não será muita coisa na vida, já que ninguém vai querer se casar com uma moça com um “problema grave”. A coitada era chamada de “Vitrola” porque o braço ficou dobrado, como se fosse uma vitrola de disco de vinil.

Estamos na década de 1920 e o cangaço está em seu auge. O Carcará, por onde passa, causa estragos. Ele e seu bando são o terror dos coronéis. Aliás, o coronelismo é muito forte no lugar (o que não é diferente de hoje, em cidades pequenas/povoados do Nordeste). As moças têm uma vida até tranquila: fazem as tarefas domésticas, vão à escola do padre Otto e costuram para a esposa do coronel Pereira, cliente fiel, além de frequentarem o curso de costura dado pela esposa do coronel quando esta comprou uma máquina Singer.

Porém, a vida delas vai mudar quando Carcará chega à Taquaritinga do Norte e “solicita” os serviços de Sofia e das moças. E será nesse momento em que elas vão se separar. Anos depois, Emília é a senhora Degas Coelho, uma família tipicamente recifense. Os Coelhos são conservadores e, por causa de sua relevância na cidade, são muito respeitados. O dr. Duarte Coelho, pai de Degas, não mediu esforços para abrir o Instituto de Criminologia, que tem como objetivo principal medir e verificar os crânios das pessoas – principalmente dos cangaceiros.

Sim, naquele tempo era comum medir a cabeça das pessoas para verificar se era possível saber, entre outras coisas, se uma pessoa seria criminosa ou honesta. Na época, tinham vários estudos sobre isso no país e o dr. Duarte era uma referência no assunto. Enquanto o patriarca estava às voltas com suas cabeças, Emília sofria em aprender as regras morais da sociedade local – por incrível que pareça, nada muito diferente de hoje.
Naturalmente, as opiniões das mulheres não tinham lá muita importância, elas sequer votavam! Assim como a autora descreve, as mulheres brasileiras só puderam votar a partir de 1932, após intensa movimentação durante o governo Vargas. Emília, que já não era mais a jovem inocente da caatinga, tinha diversas obrigações, mas nunca se esqueceu da irmã.

Luzia agora era a “Mãe” do bando de Carcará. Depois que se uniu ao bando – de livre vontade, devo dizer – ela comeu o pão que o diabo amassou para obter o respeito dos homens. Mas, pior que os cangaceiros, era a caatinga. Cruel e implacável, o sertão transforma homens e mulheres em sobreviventes. Não há água, o sol suga a energia das pessoas, para onde você olha, seca e mais seca. É uma lástima, de verdade. E Luzia, que nunca teve grandes expectativas, passou a ser alguém. E, como não podia ser diferente, também nunca esqueceu a irmã.

Primeiro, tenho que dizer que estou encantada com a trama! Nem parece que Frances passou boa parte da vida fora do país, tamanha facilidade em explicar os termos sociais/culturais/econômicos do país entre as décadas de 20 e 30. Dado o tempo em que Emília e Luzia viveram, infelizmente o machismo é visível em boa parte da obra. Mas isso não deve afastar o leitor, pelo contrário, são livros como esse em que podemos compreender bem a importância de lutar contra o machismo, e entender como esse mal não vem de hoje e está tão arraigado na sociedade que acabou virando lugar-comum.
Conforme entramos na leitura, parece que podemos ver tudo claramente: o sertão, a casa de tia Sofia, a escola do padre Otto e, mais adiante, a mansão da família Coelho, as mulheres das duas grandes sociedades locais, que faziam o bem não pensando no próximo, mas pensando em aparecer nas colunas sociais. Muita coisa que hoje parece abominável, naquela época era considerado natural – não necessariamente honesto ou não. Além disso, só o fato de que o livro ganhou um prêmio importante, portanto, estrangeiros demonstraram interesse pela história, já é algo muito relevante, tendo em vista que nem todas as opiniões sobre o Brasil são as melhores, infelizmente.

Por um forte desgaste mental, acabei demorando muito para concluir a leitura, mas se você tem tempo livre, em quatro dias você percorrerá as duas décadas de história. Aliás, o livro em si, mesmo se tratando de uma trama de ficção, tem muito de História do Brasil. É o tipo de livro que professores podem muito bem indicar aos alunos para que possam entender o que foi a República Velha, por exemplo. Claro que não se conta tudo, porém as personagens conseguem situar o leitor no período, fazendo com que ele compreenda o início da República com grande facilidade.

Por mais que a autora seja brasileira e o Brasil seja o retratado, eu não considero essa obra literatura nacional, pois não foi publicado originalmente aqui, mas isso não significa que não tenha sua importância. Aliás, só o fato de não ter sido publicado aqui é algo a se reparar. Quantas editoras americanas publicariam algo sobre um país da América Latina que fuja dos estereótipos? Não sabemos. Talvez o cangaço e a caatinga tenham lá seu charme fora do país.

Sendo assim, faz-se necessário dizer que a escrita da autora é muito boa. O Booklist indicou o livro para os fãs de Isabel Allende. E eu, como fã da chilena, posso afirmar que o site tem razão. E olha que não sou dessas de confiar em indicações de sites especializados, já que nem sempre eles acertam. A ficção com pitadas de fatos reais (uma coisa que amo, aliás) é marca registrada de Isabel, e como disse, tem muito no livro de Frances.

Enfim, recomendo o livro para aqueles que querem entender uma parte importante da história do país e também para quem quer conhecer uma realidade cruel e intocável do Brasil. A Arqueiro fez uma edição impecável, sem nenhum tipo de erro e a capa é o pôster do filme, que conta com as atrizes Nanda Costa e Marjorie Estiano nos papéis principais.

"Nunca confie na fita de um estranho."

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Olá!

Tenho que admitir que demorei demais para ler. É verdade que meu francês não é tão fluente (na verdade é bem básico), mas eu não podia não ler Violette Leduc. Sendo assim, consegui numa parceria pontual (e exclusiva) com a Livraria Francesa um exemplar. E é um pecado que só tenha conseguido seu merecido reconhecimento no fim da vida. E é outro pecado ela não ter sido traduzida para o português.
GOODREADS - Pelo que pude compreender da obra, La Bâtarde (A Bastarda, em tradução literal) é uma espécie de diário de Violette, que escrevia sua vida no "papel quadriculado" (um caderno cujas páginas realmente são quadriculadas, onde escreveu este livro). Desde sua tenra infância, em que sua mãe não se importava muito com ela, Violette, aliás, é filha ilegítima de uma criada e, não só por isso, teve uma vida difícil.

Sendo amiga de muitas personalidades da época, como Maurice Sachs e Simone de Beauvoir, que escreveu o longo prefácio deste livro - inclusive é nele que Simone responde a Violette que "no deserto há flores", quando, num momento de solidão, Leduc lhe confessa, em carta, que "é um deserto que monologa". Confesso que essa frase me partiu o coração (daí me identifiquei e simpatizei com a autora), Leduc relata como sofria com sua aparência, que julgava feia, em detrimento da notável beleza de sua mãe.

Leduc foi uma mulher de muitas paixões, e o livro mostra bem isso, assim como também mostra suas aventuras sexuais e o comportamento imoral (para a época). Em contrapartida, vemos sua excessiva carência, em que me deixou com uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo que eu entendia sua solidão, me irritava com seu desespero em encontrar alguém para chamar de amor, ou de amigo. É possível encontrar vários conceitos feministas na obra, muito antes do feminismo surgir e se consolidar como conhecemos.

Tenho pra mim que a autora era homossexual, como é possível ver em algumas passagens do livro, porém ela também se relacionava com homens, o que, além de ser considerado imoral naquele tempo (e infelizmente ainda hoje) vemos que ela era à frente de seu tempo, mesmo com sua educação parca (seus estudos foram interrompidos pela guerra), ela tinha um talento nítido para a literatura. A obra permeia o que ela mais sentia de profundo, sendo assim, considero que é uma história de valor inestimável.
"Meu caso não é único: tenho medo de morrer e estou desolada de estar no mundo. Não trabalhei nem estudei. Chorei e gritei. As lágrimas e os gritos estão me tomando um pouco de tempo. [...] O passado não alimenta. Eu irei como cheguei. Intocada, carregada de meus defeitos que me torturam. Gostaria de ter nascido uma estátua, sou uma lesma sob meu estrume."
Meu interesse por Leduc surgiu quando vi o filme autobiográfico "Violette", cuja personagem é interpretada por Emmanuelle Devos, que, pra mim, é parte da Santíssima Trindade do cinema francês, completado por Audrey Tautou (Amélie Poulain) e Isabelle Huppert (As Falsas Confidências). A produção foca na amizade de Leduc com Simone, uma amizade que beira a obsessão, até.

E como me vi em alguns momentos da vida da autora, precisava muito conhecer a escrita dela. E isso foi possível graças à Livraria Francesa, referência nacional em publicações neste idioma. Vale ressaltar que este exemplar veio importado, logo, somente desta forma é possível adquirir quaisquer obras de Violette. Aliás, faz muito tempo que um livro não me toca tanto como La Bâtarde. As palavras cruéis e sinceras da autora fazem com que você reflita sobre si mesmo. Você pode comprar este título e muitos mais no site da Livraria Francesa.

Essa foi uma das resenhas mais difíceis de se fazer, pois como disse no início, meu conhecimento em francês não é tão bom assim, logo, posso ter me confundido em um ou outro aspecto durante a leitura. Ainda assim, Leduc é uma mulher que deveria ser conhecida (e reconhecida) por todos, pois sua escrita é algo que foge do comum, uma mulher à frente de seu tempo que só queria seu reconhecimento. Será que ela conseguiu? Talvez, mas perante os leitores e seus amigos de alto calibre, porque a mídia nunca lhe deu a visibilidade que tanto merecia.

Violette Leduc nasceu no mesmo dia que eu, em 7 de abril de 1907, em Arras, na França, e morreu em 28 de maio de 1972, em Faucon, no mesmo país. Sua mãe, Berthe, morreu oito meses depois. Além de La Bâtarde, ela escreveu diversos livros, entre eles Therese et Isabelle, um relato autobiográfico, L' Asphyxie (A Asfixia), alguns de seus maiores sucessos. Se estivesse viva, em 2017 ela completaria 110 anos. 

Olá!

Depois de muito relutar, mergulhei em mais uma história escrita pela sueca Camilla Läckberg. E não é que minha xará não me decepcionou? Vem conhecer a história de Gritos do Passado, segundo volume de sua série criminal.
Resenha Anterior: A Princesa de Gelo

SKOOB - Infinitamente melhor que o primeiro, Gritos do Passado mescla várias histórias em uma. Primeiro, um garotinho vai brincar na Passagem do Rei, uma região próxima a uma praia, e acaba encontrando uma mulher morta. Porém, ao retirar o corpo do local, a polícia acaba encontrando mais dois corpos.

Enquanto isso, Erica Falck, que eu podia jurar que era a protagonista da série toda, está grávida de oito meses e morrendo de calor. Fjällbacka está em pleno verão e o calor tá de matar, rs. Volta e meia, um parente vai azucriná-la, achando que sua bela residência é uma pensão de veraneio. Por causa da gravidez, ela vai passar boa parte do tempo em casa, o que não será nada fácil, principalmente para uma pessoa que sempre foi ativa.

A outra história envolve a família Hult. Ephraim, conhecido pela alcunha de "O Pregador", era um dos vários pastores da chamada "igreja livre", digamos que era uma dissidência da Igreja da Suécia (lembrando que a Igreja da Suécia é protestante). Ephraim fazia vários cultos, acompanhado pelos filhos Johannes e Gabriel, até que um dia recebeu uma herança e parou de pregar.

Ele fez a população acreditar que seus filhos tinham o dom da cura. Enquanto eram pequenos, tudo ia bem, mas um dia o dom desapareceu de ambos. Gabriel ficou feliz com isso, mas Johannes quase surtou. Houve um cisma na família e cada irmão tomou seu rumo. Alguns anos depois, Johannes cometeu suicídio, deixando viúva Solveig (que engordou tanto que não lembrava a jovem de outrora, cheia de vida e vencedora de vários concursos de beleza) e dois filhos: Johann e Robert, um tanto problemáticos.

Do lado de Gabriel, ele casou-se com Laine e teve dois filhos, Jacob e Linda. Jacob era muito querido, isso porque teve leucemia infantil e quase morreu, sendo salvo pelo avô, o que deixou uma ferida muito profunda em Gabriel. Já Linda nasceu muito depois e não era tão amada assim, não por ser menina, mas porque não teve nenhuma doença grave. E gostava de provocar as pessoas.

A jovem encontrada morta é uma turista alemã, mas conforme os dias vão passando, vamos descobrindo cada vez mais detalhes, como por exemplo, o fato de que a vítima não tinha ido a Fjällbacka a passeio. Essa investigação ficou a cargo do marido de Erica, o policial Patrik Hedström, que teve que abandonar suas férias e terá bem mais destaque em relação ao livro anterior.
Ainda por cima conhecemos mais um pouco do cotidiano da delegacia de Tanumshede, onde Patrik trabalha com sua equipe: o chefe Mellberg (que comprou uma noiva por catálogo e essa cena é muito engraçada), o Ernst (que não gosta de trabalhar), o Gösta (que tem um passado meio triste), o Martin (parceiro de Patrik), a Annika (a secretária que sempre tem uma palavra amiga), e assim por diante.

Quando li Princesa de Gelo, senti que faltou algo a mais para me conquistar, mas dessa vez, a escrita da minha xará me pegou do começo ao fim, essa mescla de histórias que acabam se tornando uma só virou meio que uma marca registrada dela, não vejo muitos fazerem isso. Além do crime em si, Camilla aborda vários temas, como violência doméstica. A irmã de Erica, Anna, finalmente se separou do agressor, arrumou outro namorado (tão bosta quanto o primeiro, mas este tinha o sangue azul, sendo amigo íntimo da rainha Silvia, só isso) e tentou dar um rumo em sua vida, sempre priorizando os filhos. Mas quem disse que essas coisas se resolvem com facilidade?

Percebi que houve uma espécie de amadurecimento da escrita da autora. As descrições modorrentas deram lugas às descrições ágeis, detalhadas mas sem ser desnecessárias, fazendo com que o leitor visualize perfeitamente o que está acontecendo, os lugares, as pessoas, etc. E vale ressaltar que, na já citada mescla de histórias que faz, ela não se perde, talvez pelo fato da escrita ser em terceira pessoa ajuda a compreender melhor cada personagem.

E a história em si é um verdadeiro thriller. Com tensão do começo ao fim, infelizmente a Erica não terá o protagonismo de outrora, aqui ela foi relegada a uma gestante em vias de ter seu primeiro filho (cujo sexo não sabemos), acabou por se tornar a esposa do policial, mas sempre procurando ajudar o marido, que se desdobra entre cuidar da esposa e resolver os crimes, além de tentar entender a complicada família Hult, que por mais que tente se livrar das acusações, está inexoravelmente ligada a eles - e a própria Fjallbacka também.

Antes da Planeta fazer umas capas horríveis (os livros seguintes receberam uma capa de dar dó), provavelmente sabendo que a série não vendeu (se não divulgar não vende mesmo, amiguinhos), o trabalho de edição, capa e revisão ficou muito bom. Até onde estou sabendo, no país foram publicados quatro volumes (de dez, e a autora confirmou via Twitter que vai focar em uma série nova) e, apesar de eu ser suspeita para falar de romance policial escandinavo, tenho que recomendar a série da Camilla, por mais que esteja incompleta, tem um estilo próprio, que mostra ao leitor como é a vida dos suecos fora dos grandes centros - e como nenhum lugar daquele país (que beira à perfeição) está seguro de sediar crimes tão horrendos.

Então, apesar de eu não ter curtido tanto o anterior, recomendo demais esse volume. Até porque não é todo dia que uma mulher ganha destaque escrevendo romance policial. Sem falar que, dessa vez, eu acertei a famosa pergunta "quem matou?", com direito a acertar até mesmo a motivação! Então sim, estou contente com a resolução dessa história e, assim que virar o ano, pretendo ler o volume seguinte, O Cortador de Pedras.


Olá!

Como Heidi é maravilhosa, vou encerrar a semana com a resenha do segundo livro da duologia. Com o subtítulo de "Tempo de Usar o que Aprendeu", Johanna Spyri nos traz uma história atemporal, que nos permite acreditar em dias melhores.
Resenha Anterior - Heidi - A Menina dos Alpes #1

SKOOB - Continuando de onde parou (portanto pode haver spoilers do livro anterior), Heidi está esperando a visita de sua amiga Clarinha, a senhora Sesemann (avó de Clarinha) e a temida senhora Rottenmeier. Porém, para a surpresa da pequena, quem vem é o doutor. O doutor (cujo nome não nos é informado) é um grande amigo dos Sesemann e vem no lugar dos esperados porque tem uma grande tristeza em seu coração e espera que passar algum tempo na montanha seja uma boa experiência.

E não é que foi mesmo? Os Alpes encantaram o doutor de tal modo que ele simplesmente não queria voltar. Enquanto isso, Heidi mantinha sua amizade firme e forte com o Pedro das Cabras e sua avó, para quem ela lia alguns versinhos religiosos todas as noites. Ela estava com oito anos e cada vez mais inteligente. Ela era muito agradecida ao doutor, pois, ela acreditava que era ele quem tinha feito com que ela tivesse voltado para sua terra.

Isso mesmo, Heidi deixou o luxo de Frankfurt para voltar para os Alpes e seu avô. Quando o doutor volta para sua casa, a pequena volta a acompanhar Pedro em seus passeios com as cabras, Pedro, aliás, está muito simpático, mas ainda não vai para a escola com a frequência adequada. O tempo vai passando, Heidi continua inteligente e, quem diria, num certo verão, não é que Clarinha vai aparecer?!
Ilustração de Jessie Willcox Smith, esse e outros desenhos estão nos dois livros.
Sim, Clarinha e a senhora Sesemann resolvem passar quatro semanas nos Alpes. E enquanto a senhora Sesemann está na aldeia, Clarinha vai ficar com Heidi, sob os cuidados do Tio dos Alpes, que é um senhor muito bom e inclusive, na guerra, enquanto estava no batalhão, cuidou de um amigo ferido, até que este, infelizmente, falecera.

Mas como os Alpes são milagrosos, Heidi e Clarinha viverão aventuras incríveis. E são livros assim que me fazem acreditar na humanidade. Amo um livro infantil, mesmo que eu não leia com tanta frequência assim. Apesar das diferenças no tempo em que a história foi escrita para hoje (137 anos) e a forma como é escrita (didática, com mensagens religiosas), Heidi é o tipo de livro que toda criança deveria ler, porque é bonito, simples e maravilhoso.

Lembrando que a versão cinematográfica de Heidi está disponível na Netflix.